terça-feira, 19 de julho de 2011

Minha Vida

MINHA VIDA.



 
Nasci em 1967, na cidade de São Paulo, bairro de Vila Maria Alta, sempre aproveitei os prazeres que o Governo oferecia clube, quadras, campos de futebol, etc.:

Eu e meus amigos, Oberdam e Rogério, íamos ao clube do bairro todo dia nadar e nos divertir, alem de participar dos jogos municipais eu jogava no time do bairro, da escola, de firmas, onde era convidado, ate hoje não sei por que não segui essa carreira, na verdade eu sei, mas isso fica mais pro final.

Eu era um garoto meio tímido, talvez por achar inferior intelectualmente, mas meus amigos não me passavam isto, muito pelo contrario, sempre que podíamos estávamos juntos aprontando principalmente eu e o Rogério.

Rogério amava empinar pipa éramos ate sócios e colecionadores disto, mas na maioria do tempo só ele empinava, mais do que eu, e sempre me enrolava na quantia de nosso estoque, eu nem ligava queria era jogar bola.

Oberdam, esse era terrível, armava varias confusões, na rua onde morávamos no clube, na escola, mas éramos bons companheiros. Ele se ligava mais em motores, ate aprendi muito com ele.

Minha mãe domestica meu pai soldador, meu pai sempre bebia com alguns amigos, minha mãe, um doce, sempre que a condição favorecia, ela me dava os presentes mais incríveis, alem de ser a melhor mãe do universo. Em quanto meu pai dizia que eu o explorava. Na escola eu era dinâmico e assimilava as matérias confortavelmente. E assim através de muitas travessuras saudáveis o trio ia indo.

                             Com onze anos de idade entrei na guarda mirim de nome Coronel Antonio Erasmo Dias, onde minha mãe comprou a farda para mim, achei o maximo, e comecei a trabalhar também, como empacotador no Carrefour era final de ano 1978, ganhei muita caixinha, a briga era quando começava a chover, pegávamos o guarda sol que era enorme e levávamos os clientes ate o veiculo, ai a caixinha era bem melhor. Lembro que um dia se aproximou da saída um homem, que aparentava ser gay, meus amigos evitaram atende-lo, mas eu não era preconceituoso e ofereci meus serviços, levando-o ate seu veiculo, que na época era uma puma amarela o carro dos sonhos de muitos brasileiros, ele me deu de caixinha, o equivalente ao meu salário, fiquei na minha sem contar a ninguém, porem sempre que chovia esperava que esse cliente aparecesse, mas o raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

A guarda mirim incentivava muito a todos, principalmente os que passavam de ano na escola, eram graduados na guarda também, eu era primeiro sargento, foi ai que chamei meu companheiro Rogério.

Ele também ficou irradiante, e íamos juntos ao Carrefour, mostrei á ele a hierarquia e como os subordinados tinham que bater continência pra mim, assim como eu batia pra os meus superiores, era legal.

Rogério e eu vivíamos juntos e ajudávamos qualquer um que estivesse em dificuldade no trabalho, repositores, estoquistas, etc. Um belo dia subimos uma escada vertical, para ajudar nas arrumações das embalagens, que dia! Jogávamos fardos um para outro a fim de arrumar a pilha, foi ai que aconteceu. Nessa época não havia muito, segurança no trabalho,quando meu amigo se aproximou da borda de onde estávamos, recebeu um fardo, que foi jogado por outro funcionário ele não estava olhando, e o atingiu inesperadamente e o lançou lá de cima cerca de três metros de altura, meu coração se apertou, imediatamente pensei em sua mãe, olhei lá de cima e não percebi movimentos nele, desci rapidamente e comecei a dar-lhe tapas no rosto, onde ele despertou e incrivelmente ele levantou e me disse vamos voltar e terminar o trabalho, fiquei pensando,estou sonhando, e lá fomos nós.

No fechamento recolhíamos todos os carrinhos do estacionamento, às vezes eu não participava só acompanhava, pois eu era o mais graduado no dia minhas divisas eram de primeiro sargento. Era divertido recolher os carrinhos, pois embalávamos ate onde dava e pulávamos para deslizar juntamente com eles.

Usávamos farda verde escura, com uma faixa amarela na calça, boina preta, coturno e cassetete, eu adorava minha boina, era estilo da ROTA. Ate que um dia deixamos à guarda e o Carrefour. Eu deixei também a escola e ingressei no SENAI, onde aprendi como era viver em grupo, ficava lá o dia todo e adivinhem ,aprontando também, mas a minha capacidade de aprendizado continuava a mesma, minha família também, minha mãe trabalhando e meu pai trabalhando e bebendo, lá conheci Sandro, Sergio e o Ademilton, imaginem só, rolou ate acampamento.

Quando terminei meu curso, não consegui estagio, pois era jovem demais e as empreiteiras não admitiam menores em obras ainda mais em cargo de chefia, eu me formei em mestre de obras. Fiquei ate meus 16 anos sem emprego fixo, quando o Oberdam me arrumou um emprego de balconista na madeireira de seu cunhado em Pinheiros. Ai era todo dia eu e ele, inclusive eu fui acampar com ele e no primeiro acampamento imaginem só, conhecemos algumas meninas que também foram acampar, armamos as barracas e o oberdam dormiu com uma delas, não sei o que houve mais pela manhã elas levantaram acampamento e foram embora.

Meses depois prestei concurso público e fui aprovado para trabalhar na Secretaria da Justiça, foi ai que tudo começou.

Em 1986, eu com 19 anos, passei no concurso público para Guarda de Presídio. A prova foi fácil, alias super fácil, aguardava ansioso o começo de minha instrução para inicio de minhas atividades.

Agosto de 1986, me apresentei ao trabalho por ordens superiores, ciente de que começaria algum curso, pois me encaminharam para o Centro de Observação Criminológica, adorei o nome, mas os primeiros dias.

Entrei no trabalho 06h00 da manhã, conheci meu superior de nome Luiz a quem deveria me reportar em seguida me colocaram no raio numero 3, não havia ninguém no pátio, exatamente as 08h00min, um funcionário se aproximou e me disse. – Solte os presos para o banho de sol, ai percebi que não haveria treinamento nenhum. Houve uma rebelião num presídio de Araraquara, considerado Presídio modelo pois havia até piscina para os presos, inclusive academia de musculação e por incrível que pareça depois dessa rebelião eles foram transferidos de Araraquara para o raio 3, no Centro de Observação Criminológica.

Eu 19 anos, peso pena (no sentido da palavra) soltei os presos, cada um mais forte que o outro, achei que estava em Roma, em meio aqueles homens super fortes, abri cela por cela, sem auxilio e instrução de ninguém nem companhia. Enfim cada um deles arrumará um lugar ao sol naquele pátio, de vez em quando alguém lançava um olhar meio tenebroso, claro que eu estava morrendo de medo, mas pensei: aqui estou, fazer o que.

Quando deu exatamente 10h00min, escutei a portão do raio abrir, dei um suspiro de alivio, pois achei que enviaram alguém para ficar juntamente comigo, um funcionário que colocou só a cabeça para que ele pudesse me ver e disse, hora de recolher os presos, acabando a frase e saindo. Eu não sabia nem o que dizer para recolher os presos, mas respirei fundo e disse. – Pessoal vamos para as celas, pois acabou o horário, foi um momento incrível, todos se levantaram ao mesmo tempo, pensei é agora.... todos se encaminharam ordenadamente e pararam em frente suas respectivas celas para que eu abrisse e eles pudessem entrar, menos um preso, Trovão, era seu vulgo.

Trovão era o apelido dele, negro estatura media, 30 anos ficou no pátio me encarando, então repeti só para ele, - Vamos irmão , ele respondeu bravo; -Não sou seu irmão e tenho nome.  Ele, trovão, se levantou e se dirigiu para a sua cela, com passos, pior que uma tartaruga, ai pensei vou empurrar ele e mostrar quem manda, porem meu olhar avistou outros 40 me aguardando para trancá-los em suas celas. Pensei ,devagar ou depressa, pelo menos ele esta indo, mas fiquei inconformado com o desrespeito, dei prosseguimento ao que tinha que fazer que era trancá-los em suas celas, e foi o que fiz.

Exatamente 11; 00h chegou à alimentação dos detentos, com mais dois funcionários que foram de cela em cela e distribuíram a alimentação. 12h00min fui rendido para almoçar, e lá encontrei meu superior de nome Luiz, expliquei o que ocorrera, mas ele nem fez comentário, ele era uma pessoa inteligente,que tinha trabalhado na Penitenciaria do Estado de São Paulo.

Ao retornar ao meu posto,o funcionário que ali estava se foi, me deixando sozinho novamente.

As 14:00h,deu inicio ao banho de sol da tarde, ai ficou um pouco mais fácil, porem o Trovão estava lá com aquele olhar intimidador, mas fiquei na minha. Tudo correu bem neste dia e as 16:00h recolhi os presos e novamente o senhor Trovão deu inicio a sua afronta, indo vagarosamente para sua cela, então repeti meus pensamentos, devagar ou de pressa ele esta indo, 18:00h termino de meu plantão, nenhuma reunião, nada.

No dia seguinte era minha folga, passei o dia inteiro pensando no que havia entrado, mas não me assustei, pois confiava muito em DEUS.

Um dia depois, novamente dei inicio ao meu turno, desta vez com um companheiro, Samuel que já trabalhava ali há alguns meses, me orientou que, na entrada devíamos fazer a contagem e também solicitar para que os detentos mexessem uma parte do corpo, para constatar que estavam vivos . A cada cela que eu chegava, fazia igual ao Samuel, dava uma batida de leve na porta e anunciava a contagem, onde os presos mexiam um braço ou uma perna, enfim davam sinal de vida.

Quando  ocorria de alguém não se mexer, pegávamos a chaves e entravamos para a verificação. Neste dia foi mais fácil, Samuel era um funcionário exemplar e cuidadoso, os presos o respeitavam.

Daí pra frente tudo começou a encaixar, e logo chegaram mais funcionários.

Havia um raio, onde os presos não saiam para o banho de sol, era os presos provisórios que viam de outras penitenciarias para realizarem exame criminológico para progressão de regime . Enfim tudo estava em ordem ,mas o Trovão não me saia da mente, consultei Samuel sobre o ocorrido e ele me disse ; se é na Casa de Detenção ele não faria isso, pois lá um desrespeito gera uma surra com cano de ferro, ate então nem sabia nada sobre o dialeto mas perguntei. Eram canos de ferro cortados aproximadamente com 1.50cm, com um cordão no fim, que era usado para descontar desavenças entre presos e funcionários, claro que a favor dos funcionários.

Percebi que Trovão tinha que receber uma dura, mas não essa mesmo porque nunca tinha batido em ninguém .Apos 1 mês de trabalho todos os presos de Araraquara, foram transferidos, que felicidade Trovão foi também. Passei então a cuidar dos raios que só tinha presos para exame criminológico, era fácil pois havia respeito de ambas as partes, ate que um dia meu chefe nos orientou que haveria transferências de presos definitivos para lá e na semana seguinte, lá estavam eles.

Havia uma recepção, onde meu superior dava as boas vindas, era uma fileira de funcionários e outra de presos com a mão pra traz e era dito pelo chefe:

Sejam bem vindos ao COC (Centro de Observação Criminológica), vocês serão respeitados e deverão respeitar também, receberão roupas limpas, material de higiene, colchão, prato, colher e caneco de plástico e uma cela limpa que devera permanecer limpa, qualquer irregularidade deverão se dirigir ao zelador do raio, no mais BOA SORTE.

Achei legal, pois meu chefe encontrara as palavras e o tom certo para dar inicio a uma recepção. Em seguida eram conferidos prontuários e eles eram submetidos a uma revista pessoal e de seus pertences, e, era a revista.

Samuel, disse-me que na casa de detenção a recepção, eram um corredor polonês, onde eles passavam e apanhavam, eram os chamados cabeças de bagre, presos primários, que entravam pela primeira vez. E um dos funcionários dizia, aqui é sua nova casa ladrão, eu mando e você obedece, se tiver inimigo, avise logo e vai para o 5 certo. Não entendi nada, então Samuel explicou.

                             Quando se diz aqui é sua nova casa, significa que durante o período da reprimenda corporal ele devera estar ali, ate o dia em que chegue seu alvará de soltura. Eu mando e você obedece, significa que, eles deverão acatar o regulamento interno do presídio, cujo executores são os guardas de presídio. Se tiver inimigo, avise logo e vá para o 5, significa que, se o detento tiver em guerra com outros, for dedo duro, estiver com alguma divida, cuja cobrança será sua vida, ele deve ir para o pavilhão 5, que é o seguro de vida na casa de detenção.     
                            
Cada funcionário pegava o preso em sua frente e dava inicio a revista, na primeira fiquei só observando Samuel. Após revistar os pertences, onde era revistado ate pequenas costuras, ate botões, dava-se inicio a revista pessoal: o preso deve estar nu, olhasse cabelo, ouvido, costas, sola do pé, palma da mão, axilas, embaixo do saco escrotal e boca, se usassem aparelho dentário, solicitava-se a retirada para verificação, também se solicitava para que eles agachassem, pois se tivessem algo dentro do anus provavelmente cairia.
                            
Acompanhávamos a partir daí o dia a dia daqueles novos moradores e passamos há interar um pouco mais, pois havia o faxina, este era o responsável em distribuir os alimentos e manter o raio limpo, mas para ele também havia regras por parte dos outros detentos. Para ser um faxina e ficar solto o dia inteiro o mesmo tinha que estar bem com ambos os lados, presos e  funcionários. O faxina acordava 5h00m e tomava banho frio, não havia chuveiro com água quente, em seguida pagava-se o café para os demais, porem deveria estar limpo e barbeado todos os dias e devidamente trajado, qualquer outro meio de fazer a tarefa seria considerado uma ofensa aos outros presos, que poderia lhe custar à vida. Num presídio nesta época evitasse usar termos femininos e diminutivos que também eram uma ofensa.
                            
Então pãozinho era marrocos, caneca era caneco, dar a refeição era pagar a refeição e assim eu ia aprendendo. Percebi uma leve mudança  no sistema penitenciário em relação à super lotação.
                           
Todo dia ao chegar o carrinho da alimentação, era acompanhado por um funcionário para não haver desperdício de alimentos ou favorecimentos por parte dos faxinas, pois a mistura era contada. Bom esses eram meus dias no COC.
                            
Um dia ao dar inicio ao banho de sol, iniciou-se uma briga entre dois detentos, corri para apartar e apartei, porem os dois foram comunicados e receberam uma sansão de 30 dias trancados em suas celas sem banho de sol e radio.

            Fui informado de que numa situação dessa, ha de ter muita cautela, pois os detentos matariam qualquer um.        
                            
No COC, não havia televisão, jornal nem fotos de mulheres peladas na parede, desenhos, as celas eram limpas, qualquer situação neste sentido era considerado infração, que acarretava tranca (10 a 30 dias sem sair da cela), determinada pelo Diretor de Disciplina.
                           
Bom no COC era assim, em dias de visitas as celas eram trancadas e as visitas eram no pátio do raio, quem não tinha visita era mantido trancado, agora quem tinha, era uma tortura, a ordem era, não há visita intima nem pra quem era casado, um abraço apertado onde se enconchava  sua visita era reprimido, beijo na boca só selinho na despedida, qualquer atitude contraria deveríamos advertir o casal ou então recolher o preso na hora e cessar a visita, não me perguntem mas nem eu sei o motivo disso mas, estava no regulamento e  ordens são ordens.
           No jumbo, nome dado aos pertences trazidos pelas  famílias não era permitido bolacha recheada, jornal, revista, refrigerante, etc. E ninguém reclamava.
                             
Passado um tempo um preso, acho que não estava num de seus melhores dias, me olhou no pátio retribui o olhar para mostrar que ele não havia me intimidado, então ele me disse: - Ta olhando o que seu cuzão. Fiquei de boca aberta nunca havia acontecido, imediatamente Samuel se levantou.outros dois funcionários também e em seguida todos os olhares se voltaram para mim, então Samuel me ajudou e disse ao preso,- pra sua cela agora, ele nem retrucou; Samuel disse pega a chave e tranque-o na cela, pensei agora vou pega-lo, mas dentro de mim clamava-se outra medida então fiz o que Samuel dissera.
                           
Em seguida Samuel me ensinou a fazer uma comunicação ao Diretor de Disciplina comunicando o ocorrido, então fiz. No dia seguinte ao adentrarmos para revistar a cela do preso recolhemos seu radio de pilha e comunicamos que ele recebera a sansão de 30 dias trancados ,sem visita e sem carta da família ou qualquer outra carta a não ser Judicial.
                            
Percebi então como funcionam as normas, e ao termino de seu castigo o preso se aproximou de mim, e me pediu desculpas pelo seu comportamento, eu disse que tudo bem, ai também percebi que entre eles havia consciência.
                           
Passado um tempo chegaram novos presos e novamente a recepção, mas adivinhem quem veio nessa leva. Trovão , então eu o encarei o tempo todo, procurando algo para que eu pudesse me vingar do que ele me fizera passar, mas acho que ele percebeu que eu havia aprendido algo, então permaneceu o tempo todo de cabeça baixa sem me dirigir  o olhar. Fiz questão de revista-lo, pedi a um funcionário que trocasse comigo, a revista é rigorosa e com ele foi mais ainda, mas não achei nada nem por isso ele iria se safar, solicitei que ele fosse para o Raio onde trabalho.
                            
Passaram-se 1 mês e nada do senhor Trovão me dar motivo, um dia observei que ele estava com uma blusa e percebi que ele usava uma corrente no pulso, então perguntei no almoço a Samuel se aquilo era contravenção, e ele me disse que sim pois poderia ser usado como moeda de troca aqui e se encontrado poderia ate causar-lhe alguns dias de tranca. Então disse Samuel vamos iniciar uma revista, pois pode não ser dele e eu perderia a minha oportunidade.
                             
A revista é assim, quando se  entra na cela e dada a ordem para que o preso tire toda sua roupa e o mesmo vá para o fundo da cela e de mãos pra traz, onde fica um funcionário olhando a reação, olho no olho, e eu procurando meu troféu, ate que achei, e nesta hora pra mim o senhor Trovão não passava de um redemoinho num copo de água, apreendi o objeto e fiz a comunicação. Dia seguinte entrei novamente e fiz outra revista e comuniquei com prazer a ele a sansão e disse: ai meu irmão você tomou 30 dias, esperando que ele retrucasse o chamado de irmão, mas ele baixou a cabeça e nada, então me retirei da cela e acompanhei de perto os dias dele.
                            
Mas não há só coisas ruins, conheci também um rapaz (preso) especialista em marketing que trabalhava para varias empresas internacionais, que havia sido preso em virtude de trafico de entorpecente.
                           
Conheci também um rapaz que participou de uma propaganda de uma marca de cerveja recente; um excelente advogado também estava lá, entre outras pessoas dotadas de muita inteligência.
                             
Até  que em 1988 é anunciada a nova Constituição Brasileira, eu nem liguei pra mim, pensei não mudaria nada, mas mudou sim, principalmente os DIREITOS.
                           
Nesta época,havia um preso chamado Pedrinho Matador e os funcionários mais velhos diziam que, quando ele fosse ate nosso trabalho deveríamos tomar muito cuidado pois uma distração, ele mataria qualquer preso que visse pela frente, eu achava incrível porque nenhum ser humano poderia ser mais que outro, todos tínhamos a mesma chance de matar ou morrer, enfim chegou dia.
                            
Pedrinho Matador chegou, fiz questão de fazer a escolta, ele era como eu, magro cheio de tatuagens, não me impressionei, recebi ordens de que no trajeto ate sua cela, qualquer movimento brusco por parte de Pedrinho, era para agarrar-lhe, pensei, eu faria isso sozinho mas ordens são ordens.
                            
O esquema de segurança foi, quatro homens entre eles eu, Pedrinho estava no meio. Quando chegamos no Raio haviam recolhido 37 presos, para que Pedrinho pudesse entrar, comecei a perceber que era serio o negocio, no corredor superior haviam dois faxinas pagando o café, quando de nossa aproximação um funcionário disse Pedrinho pegue o café, ele levou o caneco a fim de mergulha-lho no caldeirão cheio de café com leite, quando foi advertido pelo faxina : - espere, me de aqui que eu encherei pra você. Era o procedimento correto pois havia todo um ritual para que o faxina cuidasse da alimentação, não era correto Pedrinho desrespeitar o procedimento, mesmo assim Pedrinho lançou um olhar bem gelado ao faxina e nele estava anunciada sua morte.
                            
Seguimos com a escolta e recolhemos Pedrinho em uma cela onde só havia um colchão, o restante a casa lhe pagara. Descemos para o pátio onde foi solicitada a presença de todos os funcionários, para uma breve reunião sobre Pedrinho, onde foi dito pelo chefe: - não vacilem que ele mata um aqui, antes de tirá-lo da cela chamem reforço e recolham os demais detentos, ai foi contada uma historia de Pedrinho, se é falsa, não saberei, mas escutei:
                           
Um dia Pedrinho queria matar um preso em um determinado presídio, porem o preso era demasiadamente forte, e poderia dominar Pedrinho, ele foi ate a cozinha e pediu uma lata de 20 lt de óleo de cozinha, amarrou duas  facas uma em cada mão,em seguida ordenou que virassem  a lata de óleo em todo o seu corpo e derigiu-se para o pátio, onde  sua vitima estava sentado de costa, talvez confiando no poder de sua enorme força.
                           
Pedrinho enfiou ao mesmo tempo as duas facas na saboneteira daquele detento, que ao sentir levantou-se, erguendo simultaneamente Pedrinho, quando Pedrinho ia dar inicio a uma seqüência de golpes foi agarrado, foi ai que serviu o óleo, ele escorregava como peixe,  a cada empreitada era um golpe desferido no super homem, que caiu.
                           
Então não desacreditem do que ele é capaz, terminou a breve reunião e saiu. Logo em seguida os presos terminaram de pagar o café e devolveram o carrinho a cozinha, ficamos ali meditando sobre a história, e os faxinas permaneceram no pátio.
                            
No sistema Penitenciário, os antigos contam muitas historias algumas verdadeiras outras, não saberei. Teve ate um dia que houve discussão entre funcionários antigos, pois um havia contado uma historia tenebrosa, e o outro dizia ser de sua autoria aquela historia ( - essa historia é minha), dei muitas gargalhadas.

                             Voltando ao Pedrinho, percebi que um dos faxinas estava inquieto, e lhe perguntei se o mesmo queria ser trancado, isso no sistema carcerário é ate uma ofensa, um detento pedir para ser trancado, então comecei a conversar, e a todo instante eu lhe dizia:- peça-me que eu te recolho, se você não pedir então vai ficar aqui, que é ta com medo do Pedrinho. Ele não dizia nada, então para que os outros não o subestimassem, falei em voz alta e brava. – Irei recolhe-lo agora, vamos lá, e ele obedeceu. Eu havia percebido o pânico em seus olhos, então resolvi ajuda-lo sem despertar a curiosidade dos demais, e evitar que ele fosse desmerecido entre os demais.
                             
Não se passaram nem 20 minutos da chegada de Pedrinho e meu chefe adentra ao raio  e me diz, recolha todos os faxinas, recolhi prontamente e com mais cinco funcionários adentramos a cela de Pedrinho e seguindo o procedimento para que ele ficasse no fundo da cela. Quando eu ia iniciar a revista meu chefe disse, espere e dirigindo a palavra a Pedrinho perguntou,- onde esta, pegue-a. Eu não entendi nada ele acabou de chegar, porem ficamos uns 15 segundos desse papo de onde esta, ate que : Pedrinho disse, tudo bem chefe posso pegar, e autorizado, ele levantou o colchão e tirou uma faca que foi feita com o cabo da colcha que os mesmos faxinas serviram o café, fiquei de perna bamba, como ele induziu os faxinas a fazerem isto.
                            
E também a nossa falha na segurança, em não revistar a saída do carrinho, enfim foi evitado um massacre aquele dia.
                            
Pedrinho respeitava mesmo funcionário, e disse : - puxa, já sei, foi o faxina que me delatou, foi ele mesmo quem me deu a colcha, era ele mesmo quem iria morrer. Percebi que não houve delação, houve que ao chegar o carrinho na cozinha só com a parte inferior da colcha, foi previsto onde estava o restante.
                             
Na primeira saída de Pedrinho de sua cela eu estava esperto ate demais, fui com dois funcionários ate lá, tirei-o para o corredor e antes de iniciarmos nosso trajeto realizamos uma revista no mesmo.

                             Bom, entre churrasco com os amigos e o trabalho levei meus dias em perfeita tranqüilidade no COC, em 1989 , reiniciei meus estudos no colégio Caetano de Campus no centro da cidade a fim de prestar concurso na policia civil de São Paulo.   
                            
Neste mesmo ano, abriu concurso para carcereiro da policia civil, pensei policia to dentro, mas uma vez concurso publico e adivinhem só, passei e fui para a academia de policia civil.
                              
Aquela turma foi inaugurada com uma mudança de horário, entravamos na academia as 16h00m e estudávamos ate as 23:00h, então não dava pra estudar e terminar o colégio, mas terminei o primeiro ano no colégio Caetano de Campus.
                            
                           
Voltando a casa de minha mãe, recomecei a vida e voltei a estudar perto de casa, supletivo, fiz o segundo colegial, e quando estava no meio do terceiro, meu pai adoece e morre.
                            
                          
Eu trabalhava em 1990, no  39 DP, era incrível ser policial, mas nesta época o policial recém formado ficava 2 anos de período de experiência e sem arma, mas tudo foi compensado com as pessoas que conheci lá.

Não da para falar de todos, mas meu chefe tinha o apelido de DKV, e comecei a estagiar na carceragem, tinha algum conhecimento, mas Secretaria da Justiça é diferente de Secretaria da Segurança Pública, bom tenho varias histórias para contar, mas vou contar algumas.
                            
Eu e o Carlão Punk começamos a estagiar com um carcereiro de nome Helio, ele tinha um jeito estranho de trabalhar, todos os detentos o tratavam como se fossem amigos eternos.
                            
Helio era esperto demais, mas eu tinha certa experiência que vinha do sistema penitenciário, onde não se admitia muito vinculo com os detentos.
                            
Certo dia, Helio se aproximou de mim e disse; - Que calor hein Maurici, coitado dos detentos sem condições de se refrescarem ne, faça-me um favor vá ate um posto de gasolina e compre um saco de gelo, depois passe em algum lugar e compre limões, para que eles façam uma limonada. Respondi; - Helio não estou aqui para favorecer eles, a não ser o que seja determinado por lei.
                            
Ele, Helio pediu ao Carlão, que sem experiência, comprou tudo que lhe fora pedido.
                           
A tarde adentramos a carceragem para iniciarmos uma revista, e havia um preso com vulgo Dollar, que me ofereceu caipirinha, pude de longe sentir o cheiro, mas a essa altura não dava pra fazer nada.. se fosse no COC.

Outro dia Helio me disse, vá ate a esquina e lá você ira encontrar um ex-detento que esteve preso aqui, que ira entregar-lhe um jumbo; perguntei, Helio por que ele não traz até aqui,  Helio disse, ele esta envergonhado, faça-me este favor.
                           
Pedi auxilio ao Carlão, e no caminho lhe disse, se o ex-detento nos entregar drogas, o prenderemos em flagrante. Ao nos aproximar do local, veio em nossa direção o sujeito, sem nenhum pertence nas mãos, nos cumprimentou, abaixou-se e retirou da barra de sua calça um invólucro contendo uma substancia de cor branca.  Quando o mesmo estendeu sua mão para me entregar dei voz de prisão ao mesmo.
                          
Nesta época eu não podia andar armado, pois estava em fase probatória e o detento se desvencilhou e correu, momento em que foi atropelado por um veiculo e lançado a mais ou menos 2 metros, incrivelmente o mesmo caiu de pé e saiu em disparada.
                            
Eu e Carlão corremos atrás do meliante, em meios aos veículos, e vários deles buzinando, chamando muita atenção, mas o desespero fez com que o ex-detento desaparecesse em meio ao transito.
                           
Retornamos a delegacia, e eu disse á Helio, que não era bobo, e que se eu tivesse prendido o sujeito, gostaria de vê-lo explicar. Bom essa foi uma das maneiras de desviar-me das varias que Helio aprontou posteriormente.

                             Outro dia adentrei na carceragem para iniciarmos uma revista, juntamente com os investigadores da chefia, onde na entrada um dos detentos desferiu-me um leve soco nas costas, voltei-me a ele e disse-lhe para que não repetisse o feito e que mantivesse o respeito, eu trazia isto de onde vim ou seja do sistema penitenciário. O detento repetiu o feito, neste momento iniciamos uma troca do socos, onde incrivelmente sai vencedor, estava nervoso e pensei, onde já se viu, de onde vim havia respeito, ninguém ficava com brincadeiras.
                           
Mas quando dei por mim, percebi que estava num pátio com mais de cem detentos, que fizeram uma roda e começaram a me questionar sobre o feito.
                            
Percebi que se abaixasse a cabeça, com certeza iria levar um coro ali, eu e meus companheiros investigadores. Então comecei a gritar e repetir se os demais eram advogados daquele detento que acabara de esmurrar, e que se fossem, poderiam vir porque eu estava certo na fita (gíria usada).
                            
Ao mesmo tempo, que eu gritava, eu andava em direção a porta de saída de costa, ate que conseguimos sair, sem que os detentos se dessem conta.
                            
Pela grade que dividia o pátio e minha sala, o detento que eu acabara de entrar em choque, gritava, e o sangue que saia de sua boca, chamuscava minha sala, juntamente com os seguintes dizeres. – Vou te matar seu filho da puta, você vai ver; eu respondia que chumbo trocado não dói pra ninguém.

           Depois deste dia passei a trabalhar com o investigador Pessoa, cara super inteligente, passamos a fazer intimações e estávamos na rua o dia inteiro.
                            
Pessoa sabia que eu não tinha arma, mas ele sempre dizia que, policial de viatura sem arma na rua é o mesmo que pescar sem vara, então ele colocava sua 7.65 próximo do freio de mão e dizia, se por um acaso eu for ferido você sabe onde esta essa arma, ele também tinha um 38 taurus.
                             
Pessoa era determinado, aprendi muito com ele, umas das coisas que não esqueço era que, mulheres durante uma investigação, eram homens pra ele, deveria ser tratada como suspeita, sem nos deixar levar pelas curvas de qualquer uma, linda ou não.
                            
Outro fato marcante dessa época de policial foi o seguinte, aqui não direi nomes verdadeiros.

                              Meados de 1991, houve um assalto num flat, cuja vitima era o comediante famoso, onde havia informações de que supostos assaltantes eram das imediações, então iniciou-se as investigações.
                             
Nosso delegado titular  solicitou apoio de todos os policias, e lá tinha um carcereiro como eu, de historia exemplar, então o escolhi como parceiro, ou fui escolhido.
                           
Logo obtivemos informação de que numa favela próximo, um suposto participante deste evento havia comprado um veiculo que seria uma puma GTB, e que o mesmo iria visitar sua mãe, toda semana.
                            
Eu e outro carcereiro ficamos lá de campana, ate que apareceu o veiculo, esperamos ele desligar e saltar do carro, e o prendemos. Na delegacia o mesmo confessou prontamente o delito, e foi pedido sua prisão provisória.
                            
Neste mesmo tempo havia um delegado plantonista, recém chegado da academia, e dizem que eles aprendem o seguinte, o tira é ladrão (investigador), escriba (escrivão) te fode no inquérito, o carcepol (carcereiro) é pingusso e pms (policiais militares) são assassinos. Ele estava louco pra saber como era ferrar um policial, alem  de ser arrogante, prepotente, petulante etc.
                            
Vivia me perguntando como estava as investigações, bom ele era do quadro policial, então resolvi comentar com ele os procedimentos adotados e vejam só.
                                  
Informei á ele que: as investigações apontavam para uma mulher, integrante do grupo que participou do evento criminoso, iríamos prendê-la em data e horário pré-determinado, pois a suspeito deu informações precisas.
                               
Dia da prisão da mulher, permanecemos de campana num local aonde certamente a mulher iria, incrivelmente ela não compareceu e voltamos à estaca zero. Toda uma investigação comprometida, pela não localização desta suspeita, que poderia alertar outros co-autores do crime.
                            
Retornamos a delegacia e voltamos à rotina normal, ate que as investigações nos indicassem algo concreto para retomá-la.
                            
Eu fui parar no plantão do Delegado arrogante, após dez dias de trabalhos, era um domingo, surpreendentemente chega a Delegacia o Titular, eu o recepcionei no estacionamento, ele me cumprimentou e disse,  - diga ao Delegado de Plantão para comparecer ao meu Gabinete.
                           
Avisei o Delegado e fiquei tranqüilo, pois era normal as visitas de Autoridades em dias alternados, para ronda. Quando acabou a breve reunião, percebi que o Plantonista desceu as escadas vermelho, pálido, sem sentidos. Quando ele me viu, procurou disfarçar e disse, Maurici, você estava investigando o caso, e eu resolvi, achei a mulher e vou prende-la, eu disse, - que bom Doutor, assim poderemos retomar as investigações, ai ele disse, - suba na sala do titular que ele deseja lhe falar.
                           
Chegando a porta do gabinete do titular, ele disse, entre e sente-se, foi logo dizendo, - esse filho da puta do plantão, soube de nossa investigação e deu guarita á suspeita (mulher). Eu gelei, mas percebi que o titular não sabia, que fora eu quem comentara sobre o caso, com aquele delegado. Ele a levou para o Ceara, na casa de algum conhecido dele, mas amanhã iremos ate la.
                            
Na manhã seguinte, o delegado chato, teve que comprar, quatro passagens aéreas, alem de alugar veiculo naquela cidade, eu não fui, mas meus amigos disseram que ele teve que pagar toda a despesa, por sua traição.
                           
Quando retornaram com a mulher, foi pedida a prisão  temporária, a partir deste dia o Delegado, mudou completamente seus hábitos, passou a ser mais gentil com todos, mas eu sabia que era por causa da cagada que ele acabara de cometer.                               
                             
Então os dias seguintes foram assim: Toda noite, o Delegado dizia que todos poderiam descansar, que ele tomaria conta do plantão. Mas um dia conversando com a suspeita, ele se referia ao delegado carinhosamente, muito carinhosamente, então percebi algo no ar, mas não disse nada.
                            
Dias depois ela foi transferida para uma delegacia, onde só tinha mulheres. Toda noite as delegacias reúnem nas seccionais copias de boletins, a fim de elaboração de estatísticas e outras analises, isso é feito após as 00h00m, então o Delegado fazia questão de levar esses documentos. No caminho ele determinava para que passasse com ele na delegacia onde estava aquela suspeita. Chegava na autoridade de plantão e solicitava para conhecer o interior da carceragem.
                            
Eu adentrei com ele, pois não acreditava naquilo, as autoridades de plantão naquela delegacia, achavam estranho a atitude de seu colega, mas não impediam, pois entre eles há uma cordialidade incrível, mesmo errado.
                            
Chegamos ao ponto do Delegado levar, jumbo para a suspeita, imaginem só.
                            
Tempos depois, fiquei sabendo através de um amigo, que trabalhava lá, a suspeita estava grávida e abortou, alguém levou sitotex para ela, quando a socorreram no PS, perceberam o que ela fizera. 
                                  
Depois conheci um investigador chamado Fanini, inteligente, se vestia bem, aprendi muito sobre investigação com ele, fizemos uma grande amizade, tempos depois ele foi chefiar o 45 DP, me convidou e eu fui.
                               
Quando me apresentei, só fui levar a documentação, mas Fanini, precisava de mim naquele momento, pois a seccional ordenara uma ronda a noite, ele estava sem efetivo. Eu sem conhecer o distrito topei e juntamente com Nelson, meu companheiro iniciamos a ronda e foi assim:
                               
Abrimos o talão da viatura, que permite ao policial circular com a mesma, saímos da delegacia, dobramos a esquerda, cem metros adiante dobramos a direita, avistamos um individuo andando na calçada, ele não era suspeita, pois não acreditávamos que ladrões andassem muito próximo de delegacias. Quando o rapaz avistou a viatura, saiu em disparada, eu acelerei, é o instinto de quem pilota uma barca, a adrenalina sobe, não sei explicar exatamente. O individuo adentrou num bar próximo em alta velocidade, pois ele corria muito, eu abri na curva liguei os faróis altos e parei de frente, pois se houvesse troca de tiros, os faróis atrapalhariam os meliantes. Não deu tempo do meliante fazer nada, quando ele pensou, já estávamos em cima, eu e Nelson enquadramos o bar e não houve reação, o mesmo estava com um bolsa presa na cintura de seu corpo com cerca de 100 papelotes de cocaína, conduzimos ele na delegacia, apresentamos a autoridade que lavrou o flagrante.    
                             
Tempos depois, Fanini foi convidado a trabalhar numa delegacia especializada, era o fim de uma equipe. Houve uma grande rebelião no 45 DP, pois ninguém que estava preso aquela época queria estar no 45 DP. Fanini, toda tarde ele oferecia um café, a todos que estivessem em ronda, pela zona norte, muitos de nossos amigos da policia iam neste café, naquele momento eles eram convidados a ajudar-nos na revista no interior da carceragem, então entravamos lá cerca de 30 policiais e nunca tivemos problemas, nem tão pouco fuga. Nesta época os presos fizeram uma rebelião e quebraram tudo,muitos deles foram transferidos para o Jardim Mirna , e eu fui também.  
                             
Dando continuidade aos trabalhos, era uma fase difícil, onde se alguém quisesse complicar um policial era só ir à corregedoria, se não tivesse provas eles arrumavam. As manchetes da época  era só corregedoria prendeu policiais.
                            
Tivemos problemas também, onde Nelson estava diante de um juiz em uma audiência no foro, no mesmo instante que foi dito por alguém, que ele foi visto achacando alguém, claro que eles perderam.
                           
No Jardim Mirna, sabem o que é longe, então é um pouco mais, fiquei lá 2 plantões.
                            
O Delegado Titular Dr. Rachado me solicitou, pois conhecia meus trabalhos e fui para o 23 DP, área nobre bem diferente de Brasilândia e Jardim Mirna.
                             
Permaneci por lá ate a saída do Dr. Rachado, onde assumiu o lugar Dr. Negreiro que era branco, muito inteligente.

           Lá ocorreu um fato interessante trabalhei com um delegado plantonista gente boa, um dia ele observou-me atendendo ao telefone da delegacia e algumas pessoas se intitulam através do telefone serem delegados, deputados, policias, etc, a procura de favores e facilitações em algum caso. Eu informei a pessoa do outro lado da linha que não o conhecia ,então não forneceria nenhuma informação via telefone, e que o mesmo viesse ate o DP.
                            
Bom, dias depois aconteceu o mesmo com este delegado e percebi que do outro lado a pessoa era insistente e chegou ate desacatar o delegado, também dizendo ser delegado corregedor bom momento depois entra na delegacia um delegado de ronda dizendo ser ele o interlocutor ao telefone, em voz muito alta, solicitou que a autoridade o acompanhasse ate a sala de delegados, dela ouvia-se altos brados, quando tentei me aproximar dois investigadores que estavam com este corregedor me impediram de me aproximar, dei a volta por outro lado, e vi.   O corregedor sacou sua arma bateu com ela na mesa e disse, pode ser na mão ou na bala seu filho da puta, naquele instante pensei, o corporativismo já era. Mas o meu delegado não se curvou e disse também estar pronto para o confronto, você decide estou preparado. Bom final quase acaba em beijos.
                           
Dias depois era no ano de 1996 fui para o 38 DP, casei-me com Andréia, como já disse, não durou também.
                            
Lá era uma delegacia ótima, próximo ao horto florestal, onde conheci mais um pouco de policiais, e varias pessoas do bairro.Diferentemente do 23DP, o 38 DP era povão, os policiais militares eram sensacionais, ajudavam muito ate mesmo em serviços de alçada da policia civil eles auxiliavam.
                            
Nos dias de folga eu ia ao DP, para que eu e meus amigos fossemos num sitio na serra, eram eles, Paulão e Celso, e lá curtíamos uma piscina cerveja e churrasco.
                             
Um dia um investigador que fazia as intimações do DP, se dirigiu ate uma favela na área e lá chegando, foi cercado por 8 meliantes, que apontando armas para o mesmo, desarmaram o policial, e segundo ele preparavam um ritual para matá-lo.
                            
E sem saber o que houve, todos os meliantes saíram correndo, e ele aproveitou para ir também.
                             
Chegando na delegacia ele nos contou a que acabara de passar, então pegamos todos os armamentos possíveis e nos dirigimos para a favela. Bom , poderíamos não achar os criminosos, mas eles deveriam saber que importunar um policial iria causar problemas a eles.
                            
Descemos das viaturas, cerca de 20 policiais, fora o reforço a caminho, andamos pelo becos da favela, onde alguns moradores sorrateiramente indicavam o lugar exato de onde estavam os criminosos.  Bom pessoal nesta época percebi que, em questão de invasão a favelas meus companheiros tinham muito a aprender com a PM , mas enfim, chegando no barraco indicado, tudo trancado luzes apagadas e nenhum barulho. São momentos em que a adrenalina vai a 1000, sem saber o que iria acontecer, então cercamos o lugar, e deixamos quem estivesse lá dentro saber, que, era impossível a fuga, e mesmo que tentassem, confronto armado, todos iriam morrer, poderia ate haver baixa em nosso lado, mas na dele haveria extermínio.
                           
Bom, todos se renderam, e realizamos uma prisão enorme naquele dia , muitas armas, alem de prender-mos uma equipe de justiceiros.
                           
Entre essas e outras eu tocava a vida naquela delegacia, ate que um dia.

           Passei a trabalhar com um ótimo delegado de nome Paulo, me sentia bem amparado, pois ele era muito profissional, homem de atitude.
                           
            Trabalhamos muito tempo juntos, inclusive no 39 DP, mas num plantão noturno o senhor Paulo veio sem veiculo próprio, o investigador o apanhou com a viatura no metro.
                            
Trabalhamos a noite inteira e pela manhã, o Sr Paulo solicitou-me uma carona, pois ele tinha que ir ao 39DP, conversar com o titular daquele distrito.  No caminho, observamos indivíduos em atitudes suspeitas, que levavam de uma casa para outra, caixas de papelão, resolvemos averiguar.
                           
Ao abordar o suspeito e indagar sobre aquele material, o mesmo informou ser materiais de informática e que não estava com a nota fiscal ali presente. Fato irregular este, e havia diversas caixas e a situação indicava crime fiscal, momento que o Sr. Paulo telefonou para o investigador Nazario o qual obtinha conhecimento nesta área. Chegando ao local, o Sr. Nazario averiguou e solicitou a fonte de onde saira aquele equipamento. O proprietário informou ter adquirido de um empresário de nome Walter, e que ligaria para o mesmo trazer as notas fiscais.
                            
Aguardei do lado de fora o curso das averiguações, momento em que o Delegado informou que deveríamos aguardar, pois a nota fiscal estava a a caminho.
                            
Neste período em que aguardávamos, apareceu diversas viaturas de outras áreas, dizendo conhecer Walter, e para que deixássemos pra la esta investigação, mas o Sr. Paulo não deixou e aguardamos o desfecho.
                            
Chegou ao local  dois homens num mustang amarelo, eram eles Walter e um amigo dele, que adentraram na casa e eu aguardei observando a segurança do lado de fora, ou se alguém resolvesse retirar alguma caixa do local.
                           
 Algum tempo depois, o Sr. Nazario informou que, o Sr. Walter trouxe a nota, porem os procedimentos adotados pelos comerciantes, estavam errados, eles deveriam portar as notas, em qualquer lugar onde estejam as mercadorias, disse-me também que a averiguação pararia por ali, pois haveria ate a necessidade de consultas em Consulados e não era um caso de se perder este tempo, então fomos embora.
                            
Dias depois, Nazario me ligou dizendo que, aquela investigação, criara uma animosidade em nossos superiores, porem o mesmo conversaria com tais superiores. Bom os dias foram se passando e a situação apertando. Ate que um dia o Delegado Paulo foi convidado a comparecer no Decap, chegando lá solicitaram para que ele relatasse o ocorrido, momento em que foi cercado em uma sala, por 5 delegados, onde houve uma tortura psicológica, com palavras de baixo calão desferidas para Paulo. Os interrogadores queriam que Paulo confessasse um crime que não ocorrera e ao mesmo tempo, xingando-o de vagabundo, ladrão, corrupto e outros nomes, tudo isto relatado por Paulo.
                            
Paulo me telefonara no mesmo dia dizendo que nunca imaginou neste mundo haver tanto desrespeito. Percebi no tom de voz de Paulo, medo, susto, incompreensão.
                            
Após a tortura entra na sala um delegado aparentando ser bom, e diz á  Paulo cofesse só para mim, somos amigos e colegas de profissão, Paulo diz,  - Eu não errei em minhas investigações, e se houve algum erro que não tomei conhecimento, eu sou Delegado de Policia e mereço algum respeito.
                            
Paulo ficou arrasado com este fato, dias depois surgira uma fita, a qual fora gravada no dia da tortura, mas é claro sem a parte interessante, sendo ela corroborada pelo depoimentos de dois delegados corregedores, que nem se quer sabiam do feito, os mesmos foram testemunhas de um crime sem vitima, explicarei por que.
                            
Neste mesmo dia, uma viatura do GOE, apanhou a suposta vitima na zona norte de São Paulo, e dissera que a mesma deveria comparecer a sede do DECAP, para formalizar uma acusação de concussão, a vitima respondeu que não, pois não poderia acusar alguém de um crime que não ocorreu, mesmo assim os policiais disseram ser ela obrigada a lhes acompanharem.
                            
Esta suposta vitima foi posta dentro da viatura, e na sua visão havia, diversos armamentos, relatou também que ficou muita assustada.
                            
Durante o percurso, ate abordagens foram realizadas com a vitima dentro da viatura, colocando em risco a vida de outrem, após isso permaneceram na praça Por do Sol, ate que recebessem o sinal do DECAP, para a aproximação com a suposta vitima.
                           
Chegando la, a vitima deparou-se com o Delegado Paulo, em uma situação constrangedora, estranhou tudo aquilo.
                             
Ao conversar com os superiores a fim de formalizar uma acusação formal, a vitima não efetuou tal ação, pois não havia erros por parte do Sr. Paulo, então a vitima se viu pressionada naquele instante a fazer uma comunicação, a qual não ocorreu.
                           
 A vitima foi indagado pelo superior, o porquê ele estava ali, se não queria prestar queixa. A vitima respondeu, estar ali obrigada pelos policiais do GOE, e que não foi dar queixa de policial algum pois, se assim tivesse de agir diante de um erro policial, iria na corregedoria e não naquele local. Momento de reflexão, mas os superiores foram ainda mais longe.
                            
Uma semana depois se iniciava um inquérito policial para apuração dos fatos, vejam bem a corda arrebentaria, mas de que lado. Sem provas concretas o inquérito foi avançando, ate que o promotor ofereceu a denuncia e um juiz que aceitou.
                            
Fiquei desconsolado, e resolvi mudar de profissão, e comecei minha empreitada para isso. Conheci uma pessoa que era Presidente da Junta Comercial de São Paulo, onde ele seguiria carreira na política e tentaria ser Deputado Federal, eu nunca acreditei muito na Política, mas um dia estava em Francisco Morato com esta pessoa de nome Nathan, onde avistamos uma senhora, limpando a frente de sua casa com uma pá, ela retirava o barro com muito sacrifico, neste momento escutei uma frase do Sr. Nathan, onde ele disse, um dia vou ser alguém pra  mudar este quadro,  pude perceber que alguém se importava, nunca mais esqueci isto.
                           
Fui convidado a ser motorista e segurança durante a  campanha do Sr.Nathan, onde foi alugado um veiculo compatível para nossas viagens, era sexta a noite, e na segunda feira iria se iniciar a campanha.
                             
Fui orientado pelo Sr. Nathan realizar uma boa compra em minha residência, pois iria me afastar e deveria deixar minha família bem assessorada. Pois bem resolvi fazer melhor, iria viajar com Andreia e deixaria o dinheiro para que ele fizesse a compra na segunda.
                           
Acordei sábado de manhã, com uma nova inspiração e planos, fui ate a padaria comprar um belo café, aproveitei e comprei o jornal, pois a partir daquele momento deveria eu estar informado sobre tudo que acontece na política.
                            
Ao chegar em casa, coloquei o leite para ferver, e havia em casa um tio da Andréia, que começou a ler o jornal antes de mim, e ele me disse,  - você viu a manchete de hoje, juiz pede a prisão de quatro policiais,  não liguei, pois quase todo dia havia noticias de policiais sendo presos. Quando ele começou a ler a noticia, na hora em que começou a ler os nomes, escutei ele dizer meu nome, pensei era brincadeira,  ele disse que não, peguei o jornal e minhas pernas ficaram tremulas.
                            
Um juiz havia pedido nossa prisão preventiva, baseado em fatos inverídicos, claro que ele deveria nos interrogar, mas prisão preventiva era demais, começou o medo em minha vida. Fiquei num sitio por quase 20 dias, retornei, quando soube que Dr. Paulo havia se dirigido ao Presídio Especial da Policia Civil, falei com meu advogado e me entreguei, sabendo que tudo não passava de armação.
                             Vi, como era o outro lado da coisa, sempre prendi e agora sou preso. No presídio de policias, não é muito diferente dos presídios comuns, lá tem intelectual, ignorante, pessoas da paz e pessoas da guerra.
                           
Quando entrei procurei um amigo que trabalhei com ele no 39 DP, buscando algum alento, mesmo sabendo que eu nunca o visitara naquele lugar, alias na policia é assim você foi preso os amigos dizem, não se preocupe arrumaremos o melhor advogado, mas quem paga a conta é você e depois pouco a pouco vão sumindo.Meu amigo de nome Fernandes, me acalentou e explicou que eu me daria bem, e que eu era esperto para enfrentar aquilo.
                            
Havia um policial preso que era quem dava as ordens, alias onde há muitos comandos tem anarquia, então só ele mandava e todos obedeciam, o nome dele era Marcos. Sentei um instante na quadra, onde me veio o pensamento em minha mãe, fiquei deprimido, logo encontrei  o Dr. Paulo que me abraçou como um pai e disse-me, não temas iremos sair dessa, você fez a coisa certa em se entregar, devemos acatar determinações da justiça. Lembrei dos meus amigos Nazario e Dagoberto que estavam na mesma situação, porem não se entregaram.
                            
Fui chamado pelo Dr.Marcos, para que ele me indicasse o quarto onde deveria me hospedar. Foi ai que tudo começou de novo.
                            
Ele me indicou um quarto onde estava Ademar  ( vulgo fininho) do antigo esquadrão da morte. Subi as escadas, e a cada degrau deixava minhas esperanças para traz, arrasado, deprimido, traído pela própria corporação. Ao chegar no quarto, Fininho se apresentou como chefe do quarto, arrogante, nariz em pé, como se fosse dono do mundo, ele se apresentou a mim como sendo o melhor policial que São Paulo já teve, e eu era apenas mais um.
                            
Disse também que se eu aprontar iria ver com ele, então pensei,  ele nem me conhece e já esta me ameaçando, olhei para ele como se ele também não fosse nada para mim, afinal na rua eu prendi as piores quadrilhas, não era um preso como eu que me intimidaria. Neste momento ele levantou seu colchão e puxou uma faca, que não era artesanal, foi tanta a violência do gesto que percebi que o intuito era me intimidar.
                            
Fininho disse com a faca nas mãos, quem não me obedece aqui eu resolvo assim, mostrando-me aquele faca toda cromada, cabo de ferro, que só de observar já dava medo, porem eu estava na mesma situação que ele ou pior, então porque me intimidar. Eu disse a fininho, sem saber quem ele era de verdade, pois nunca havia ouvido falar dele, do esquadrão da morte sim, mas dele pessoalmente não, pra mim todos já haviam morrido, - Sr, Fininho, não estou aqui para atrasar o lado de ninguém e também não vou admitir que atrasem o meu, não estou aqui para afrontar ninguém, mas também não quero ser afrontado, estou preso fim de carreira e nessas horas tanto faz, em relação a faca eu disse – no sistema penitenciário eu avistei muito maiores e não me intimidei.
                            
Observei que Fininho era agressivo com cachorro morto, mas percebi a roubada que Marcos me colocara sem saber eu por que. Fininho gritava para falar, como se tivesse que mostrar que ele era importante, eu a cada dia o analisava.
                             
Ele trazia costumes da cadeia de presos comuns, como por exemplo, não deixar sapatos no chão, cortinas na cama, eu nem sabia por quê. A cama dele ficava próximo a janela, era o melhor lugar, vento fresco, observava a rua pela janela a qualquer hora e dali dava pra viajar em meio os pensamentos.
                            
Ele dormia todo dia com aquela faca, e quando alguém, abria a porta do quarto, lá ia ele puxar a faca, era como se alguém estivesse prestes a matá-lo.
                            
No segundo dia acordei cedo, alias nem dormi direito, e fui para a quadra caminhar,  encontrei Fernandes, conversamos um pouco, ele me disse para tomar cuidado na quadra, pois quando Maldi corria ele não queria ninguém em seu caminho eu disse tudo bem, não ficarei em seu caminho.
                            
Maldi ( um preso como eu) acordou e iniciou sua corrida, observei e procurei não ficar em seu caminho, mesmo assim, numa de suas voltas ele veio em minha direção, mesmo sabendo que eu não estava em seu caminho, observei que ia crescendo aquela imagem dele se aproximando de mim. Quando ele jogou seu ombro para me derrubar, eu endureci o ombro e ouve o choque, ele não me derrubou, em compensação quase caiu, ali estava selado um desafeto, ele seguiu seu caminho e eu o meu, mas fiquei esperto.
                            
Os dias foram passando, fiz amizade com Carlos, um negro grande, muito inteligente, tinha boa conversa, sadia e de boa família, pensei um pouco de crescimento intelectual para mim, que bom.
                             
Comecei a jogar xadrez com Carlos, um dia ele ganhava outro dia eu, mas ele ganhava bem mais que eu. A minha amizade com Carlos, não foi bem receptiva por parte de alguns, eu nem percebi, mas parecia que eu estava pedindo seguro de vida para o Carlos. Principalmente Maldi, todo dia ele ficava de longe me observando, e eu na minha. Comecei a treinar musculação, a fim de passar o tempo, então levantava todo dia as 06h00m, e iniciava meus treinamentos que se estendiam ate 10h00m, onde começava o jogo de futebol de salão.
                            
De dia era esporte a noite era escutar Fininho falando de suas façanhas, de uma tal de RUDI, como se ele quisesse incutir a pessoa que ele foi, mas eu fingia escutar, contou-me um monte de coisas, eu achava que ele viajava no tempo, pois ninguém poderia  tanto assim, poderia ate ser verdade, mas muito era mentira, tempos depois fiquei sabendo que RUDI era uma divisão respeitada chefiada pelo investigador Correinha.
                             
Lá no presídio tinha um comercio, onde alguns se mantinham  daquilo, tinha também a igreja, biblioteca, amplo  refeitório, onde conheci Albertinho, investigador também, preso, ótimo  goleiro de futsal, estava preso porque, ao chegar em sua casa, com sua família, foi surpreendido por um assaltante armado, que desferiu um tiro em sua direção, ele revidou, não sei bem deste caso, mas o promotor não perdoa.
                            
Falando em promotor chegou o dia da primeira audiência, eu e Dr. Paulo fomos escoltados e algemados ate o Fórum, que dia péssimo, chegando ao Forum, resolvi erguer minha cabeça, para dar força ao Dr. Paulo, ele balançava a cabeça e dizia não pode estar acontecendo isto comigo, O juiz parecia sorrir, em ver a autoridade ali, segregado. Durante a audiência, no interrogatório, eu disse ao juiz tudo que ocorrera naquele dia, e ele perguntou-me se eu havia pedido dinheiro e se eu havia recebido algum dinheiro da mulher da vitima, respondi que não. Após a audiência retornamos ao presídio, desfalecidos.
                            
No dia seguinte conheci um carcereiro condenado a 300 anos de cadeia, fiquei boquiaberto, afinal entendi, ele era carcereiro no 42 DP, onde morrera 12 presos asfixiados, então recebeu condenação de 30 anos por cada morte, ai todo mundo pensa que se somando as penas e o total que o preso de tirar, mais não é assim.
                            
Havia um garoto novo, perguntei a que ele fez, me disseram que ele atropelou e matou uma namorada, pensei e perguntei, se atropelamento dava cadeia, eles sorriram e me responderam, - ele atropelou, deu uma ré no carro e passou em cima de novo, depois engatou a primeira marcha e novamente passou em cima, manobras essas realizadas uma 3 ou 4 vezes.
                             
Enquanto aguardava outra audiência todos diziam, não acreditar no que ocorrera conosco.
                            
Percebi que Fininho não descia para o pátio, só ficava na cama vendo televisão, adorava Fabio Junior, dizia lembrar-se da mulher, falava muito em seu filho, dizendo ser seu orgulho, sua filha, um dia foi visita-lo, tinha estilo de modelo, muito bonita, mas Fininho dizia não gostar do atual namorado, dizendo que ela deverei arrumar alguém rico.
                            
Um dia fiquei pensando numa cena, Fininho me mostrou seu distintivo e sua funcional da época do DOPS, material muito velho, mas ele vivia nesta fase e não saiu, parece que queria ser notado, como na época do esquadrão, mas os tempos eram outros, como disse anteriormente, a Constituição mudou muita coisa.
                            
Fininho, sempre gostava de falar da época antiga do Fleury, eu escutava afinal eu adorava ser policial. Todos ali presente não gostavam muito de Fininho, mais eu não tinha escolha. Fininho quando precisava descascar uma laranja, cortar um pão ou outra coisa, pegava a bendita faca, ate me acostumei e as vezes pedia a ele emprestada, e ele dizia use-a aqui dentro não a leva pra fora que eu não quero que ninguém saiba. Estranhei, pois havia de tudo naquele presídio.
                            
Um dia, Fininho, desceu ate a quadra, eu estava jogando futebol, antes do termino da partida ele subiu ao quarto. Era uma época dura para todos, mas Fininho era odiado por alguns. Ao adentrar no quarto, Fininho notou que alguém furtou sua estimada companheira (a faca). Quando acabou a partida de futebol, subi para tomar banho, encontrei Fininho, desconsolado, cabisbaixo, com medo. Ele me relatou o ocorrido, mas eu disse, que, era só uma faca, logo ela apareceria.
                            
A partir desta data, durante a noite, alguns companheiros gritavam nos corredores os seguintes dizeres: Vai morrer Fininho, neste momento ele puxava sua cortina, olhava-me e dizia, você esta escutando, eles querem me matar, estão tramando algo. Eu sabia que naquele presídio ninguém matava ninguém, e dizia, fique frio Fininho nada vai acontecer .
                            
Ele não podia ir a lugar algum, que escutava os gritos dos companheiros, que após um tempo virou gozação, ate quem não gritava, passou a gritar e Fininho com sua pressão subindo de tanto nervoso que passava. Pensei um dia Fininho é que nem Sansão sem cabelo, perdeu as forças, Fininho também sem sua faca não era nada. Foram dias de terror para ele, ate que as situação foi devagar se amenizando, mas ao esquecida, sempre se ouvia alguns gritos isolados.

            Após alguns dias, chega preso o policial Agnus, o qual conheci em algumas incursões durante operações conjuntas, observei que Maldi logo tratou de conhecê-lo.
                           
Alguns dias depois Agnus me disse o teor da conversa, em que Maldi perguntou se Agnus me conhecia, dizendo também que eu era pilantra, etc.
                            
Bom, sabia que desde a quadra algo nasceu entre eu e ele, mas fiquei na minha. Durante o almoço, eu estava na fila e ao meu lado havia uma pequena pilha de bancos de madeira, ele se aproximou desferiu um soco naquela pilha, onde deslocou um deles, em seguida disse a outro companheiro que estava louco para quebrar a cara de alguém, percebi que era comigo e disse, vontade é coisa que passa, só quero ver quebrar, ..ele ficou na dele e eu na minha.
                           
No dia seguinte após minha rotina de exercícios fui jogar xadrez com Carlos, e o mesmo havia emprestado uma mesa de armar para um companheiro e autorizou a pessoa a pegar no primeiro andar, só que o companheiro pegou a mesa errada e justamente de Maldi, quando todos notaram o erro foi feita a troca, sem danos a ninguém, mas Maldi não ficou satisfeito.
                            
Aproximou-se de nosso jogo e começou a indagar sobre o ocorrido, mas não satisfeito, começou a nos irritar, pensei é hoje que eu pego ele, mas a situação não era comigo, mas Carlos era meu amigo e não precisava de ajuda, mas eu o pegaria de graça.

                           
A discussão foi ficando quente ate que Carlos se levantou nervoso e eu também, estava quase voando em cima de Maldi, mesmo sabendo que ele não podia com Carlos, mas eu queria resolver com meu desafeto, quando ele percebeu baixou sua voz e se retirou. Pensei que pena, perdi a chance de mostrar a ele.
                           
Acho que Maldi traficava lá dentro, digo acho porque nunca vi de verdade, achava o cumulo policial traficar.
                            
Um dia entrou preso lá, um carcereiro o qual o apelidamos de coruja, pois ele usava um óculos de grau, com lentes tão grossas que mal dava para ver seus olhos. Coruja era hilariante, falava com uma voz picante, todos gostavam dele.
                            
As  vezes ele chegava na grade que dividia a administração de nosso convívio e gritava.... carcereiro, não agüento mais, me tira daqui, abre aqui ....haha ele era demais todos riam.
                            
Mas acho que coruja, não agüentou e passou a usar alguma substancia ali, digo isto porque, ele me respeitava e eu a ele. Um dia Maldi entrou no meu quarto sem pedir licença, ficou observando tudo e eu a ele, fiquei de pé esperando alguma reação , na qual eu pudesse revidar. Ele se aproximou da cama de coruja e começou a desligar o televisor do mesmo, pensei Maldi é um rato de cadeia (expressão usada, por detentos, referindo-se a ladrão dentro da mesma), mas aqui não vai se criar, então me dirigi a ele e disse, - o que você esta fazendo, mexendo em pertences que não são seus, ele disse  - o coruja me deve não paga, então vou levar a televisão dele, eu disse – tire a mão da televisão você só vai levar algo daqui com a presença do dono, caso contrario não,  então ele de pé na minha e eu esperando minha chance, quando ele deu as costas e foi chamar coruja para resolver a questão, mas não levou a televisão.
                            
Minutos depois adentra ao quarto coruja e Maldi, coruja dizendo eu vou te pagar espere a visita, então Maldi disse vou levar a tv, coruja disse – a tv não,  - então vou levar seus óculos, neste instante imaginei e sorri por dentro, quer deixar coruja cego haha,  - coruja disse, ta então se quiser levar algo leve meu cobertor pode levar.. o cobertor do coruja era todo rasgado, cheirava mal, Maldi então falou, pois bem ate o dia da visita se não? E retirou-se.
                            
Eu não disse nada, aprendi que em cadeia não se pega nada sem pagar, porque quando a cobrança chega, poucos seguram a onda.

           Marcos comandava o presídio do lados dos presos, mas também tinha uma equipe de loucos, dispostos a tudo, era só dar a ordem que o coro comia.
                            
Era uma equipe de três, mas ouvi dizer que antigamente eram mais integrantes, porem dois dos membros deste equipe eu conhecia, Badolato e Kleber, o terceiro adivinhem, Maldi, mas tudo bem, eu era muito conhecido na zona norte, e não tinha problemas por que, se algo acontecesse com algum policial conhecido, queimaria uma arrecadação de dinheiro realizada por alguns, dentro do presídio, explicarei depois, voltemos à equipe.
                            
Relatarei aqui um fato que ocorreu, para os senhores leitores saberem como funcionava essa pequena máfia.
                            
Chegou preso um delegado, do qual não me recordo nome, o mesmo era como eu, não se curvava fácil, mas tinha um problema era não era conhecido do lado de fora, no presídio tinha o alemão, grande alto, que ao chegar qualquer um ele ligava para alguém lá fora, para saber ate aonde ia os conhecimentos do novo morador.
                            
Este novo delegado foi residir junto com o Sr. Marcos, pois havia um quarto só para autoridades, ai pensei olha o corporativismo ai gente.
                            
Um dia ouve algumas desavenças entre eles e o novo morador estava jurado, mas gente no presídio de policia ninguém mata ninguém, mas umas porradas haha, isso sim.
                           
Uma bela noite estava eu escutando Fininho falar da RUDI, então quando do fim de nossa conversa resolvi descer ate a quadra e caminhar a noite estava linda. Ao descer estava eu no meio do caminho nas escadas, momento em que as luzes do presídio apagaram-se, fiquei um tempo parado, pois sabia que ao ficar por algum tempo no escuro logo voltaria a enxergar , aprendi isso numa reportagem de Nelson Piquet, onde havia uma corrida, na qual estava um dia ensolarado, sol quente, porem o trajeto do circuito onde corria Nelson Piquet, havia um túnel, então todos ao entrarem no túnel reduziam a velocidade, pois você estar ao sol e de repente sombra, causa uma cegueira temporária ate você se restabelecer já viu.
                            
Nelson Piquet segundo a entrevista venceu essa corrida, pois a cada volta antes de entrar nesse túnel ele uns 5 segundos fechava um dos olhos, mantendo só um aberto, e ao entrar ele trocava as visões e fechava o que estava aberto exposto ao sol, e abria aquele que já acostuma a escuridão temporária e assim eu aprendi nas minhas incursões em favelas a me guiar e enxergar o inimigo.
                            
Quando rapidamente voltei a enxergar, estavam subindo encapuzados três indivíduos, que logo os conheci, então indaguei onde vocês vão Badulato, ele espantado me disse, - como me conheceu, estou encapuzado, eu disse deixa pra la, bom ele me convidou ali para participar deste evento onde eles iriam dar um corretivo num delegado, ai perguntei se era o Dr. Paulo, pois se fosse eu iria intervir, mas responderam que não, continuei descendo a escada e logo avistei Dr. Paulo na quadra. Segundos depois escutei uma gritaria de alguém gritando socorro aos carcereiros do presídio, sem sucesso pois quem entraria ali nesta escuridão. O delegado foi agredido com varias chineladas no rosto sem nunca saber quem o havia agredido.
                            
De madrugada foi acionado o Diretor do presídio, ele reuniu todos no refeitório dizendo que queria a cabeça dos autores, o silencio imperou, então o Diretor ameaçou dizendo que iria chamar o GARRA, por dentro todos ficaram aliviados, pois sabiam que o Garra, nunca faria isso.
                            
No presídio vi varias brigas dos companheiros por nada vi muitos entrarem e saírem, tudo que ocorria lá dentro procurávamos resolver lá dentro.
                            
Havia um delegado que era titular na rua, um negrão que aparentava ser meio desregulado da cabeça, um dia ele arrumou uma confusão e agrediu um rapaz, que era pura calma, onde reprovei sua atitude, mas no dia seguinte todos se vingariam, hahaha, colocaram gutalax num litro de refrigerante e deram a este delegado, no horário do jantar la estava ele, achando que porque agrediu alguém , era respeitado também, então passou a arrumar confusão, e quando ele armou naquela noite outra briga, ele parou de repente e disse, estou tão nervoso que caguei nas calças, começamos a rir.

           Na manhã seguinte um belo dia de sol, a tarde sentei-me na quadra sozinho, quando se aproximou o carcereiro que trabalhava no presídio e começamos a conversar.
                            
Ele estava se lamentando em virtude do seu chefe, que há dias vivia o importunado, perseguido, eu o acalmei e disse que a corporação é grande e que ele iria um dia trabalhar com pessoas muito legais, e citei meus companheiros, Fanini, Nelsão, Maumau, Aguinaldo, varias historias, ele me disse do nascimento de sua filha, falou da família e ao final da tarde ele estava sorrindo, fiquei aliviado em fazer alguém feliz e contar-lhe que a história da policia não se resumia só ali com aquele chefe.
                            
Bom no dia seguinte, por volta de 13h00m, escutei um tiro, como de costume de todos policiais, nos dirigimos para o local de onde veio o som do estampido, todos policiais ou ex-policiais, nesta hora todos querem ajudar. Deparamos com o mesmo carcereiro, que eu havia conversado no dia anterior, de arma em punho ele fez de seu chefe, refém.
                            
Não sei bem o que houve para iniciar aquela desavença, mais foi momentos de grande tensão.
                            
Após o tiro, o carcereiro adentrou a sala do seu chefe, ordenou para que o mesmo permanecesse com as mãos sobre a mesa, havia um armário de ferro ao lado da porta que o carcereiro cuidou de lançá-lo para bloquear qualquer tentativa de entrada.
                            
Olha pessoal, quando um policial resolve fazer algo ruim ou bom, ele é ótimo no que faz, pois foi treinado para aquilo, e quando numa ocorrência envolvendo policial, ele se torna difícil porque ele sabe os meios usados.
                            
Quando nos aproximamos o carcereiro estava com a mira de sua arma voltada para o chefe, e gritando, você não vai mais oprimir ninguém seu filho da puta, hoje você vai morrer, cadê sua coragem em me peitar. Nos aproximamos e eu fiquei em silencio pois meus companheiros começavam a falar com o carcereiro, agora imaginem um presídio, onde o fato é com os funcionários deste presídio e os presos tem que negociar aquela situação, ironia do destino, não, todo policial bom ou mal, tem nas veias o ordem policial, podem acreditar o sujeito pode ser o pior policial, ladrão, assassino, corrupto, mas ele frente uma pessoa em perigo 99,9% ajudará.
                             
Maldi resolveu ser negociador naquele instante, e disse para o carcereiro parar e confiar em Deus, mas também disse algumas coisas que não deveria dizer, como:  Tenha calma se você for preso, você ficara aqui conosco, neste momento o carcereiro disse assustado preso eu não, então ele disse ao Delegado de Plantão, que mal saiu da academia de policia, eu quero o Delegado Geral aqui e o Corregedor.
                            
Enquanto se providenciava a vinda de alguém, ele ameaçava a todo instante matar o chefe, e por vezes colocou sua arma embaixo do seu queixo e ameaçava atirar nele mesmo, neste momento gritávamos para ele sair do transi em que estava, e dava certo, mas não sabíamos ate quando.
                            
O delegado novo sem pedir informação ou se interar da situação com os negociadores presos, resolveu por conta própria ligar para a mãe do carcereiro, e levou o celular ate a janela da sala e disse ao mesmo, olha tenha calma e fala aqui neste celular com sua mãe, ela esta na linha,  neste momento o carcereiro deu dois tiros dentro da sala, momento de alta tensão, onde o delegado de plantão saiu correndo de medo,  claro fez uma cagada. Após os dois tiros, o carcereiro gritou, seu filho da puta, quem mandou você ligar para minha mãe, você vai morrer também, parou alguns instantes em silencio e novamente levou sua arma ate seu queixo e novamente gritamos com ele.
                            
Olha tenho que dizer algo, policia que é policia não mistura família com a profissão, não leva noticias do dia a dia para casa, afinal trabalhamos com a escoria e porque dividir isto em casa, então dissemos aquele delegado para rever seus conceitos.
                            
Quando um delegado é de carreira, ele age e pensa diferente, quando ele nunca foi e nem sabe o que é policia, ele sai da academia louco para prender, nem que seja um policial, isto ocorre também na policia militar onde os filhos dos coronéis vão ser aspiras e saem de lá, achando que são donos do mundo, querendo fuder os antigões.
                              
A coisa ficou pior, chegou o delegado diretor do presídio e diante daquela circunstâncias, ele sacou sua 9 mm, e fez posição de tiro, para salvaguardar a vida de seu chefe, momentos de tensão onde o carcereiro gritava atira seu filho da puta, então ele engatilhou sua 9 mm, e neste momento todos do presídio que estavam nas janelas e lá embaixo gritaram, não atire! e não tente matar o colega negocie!
                            
Entendemos que se a situação fosse na rua e o autor fosse bandido, já era, não haveria muito papo furado, haveria preservação de vida.
                            
O delegado recuou em sua empreitada, neste momento resolvi arrefecer o momento e disse rapaz você ontem me falou de uma linda família que acabara de aumentá-la em dias atrás, com o nascimento de sua filha, e eu lhe falei que a policia não se resume a isto, pense bem e descubra tudo que lhe falei, você não quer trabalhar com um chefe bom, com companheiros de verdade, ai fora tem muitos no DEIC, DETRAN, DECAP, enfim, arrume tempo para você e sua família resolva este impasse e de muitas gargalhadas no final.
                            
Neste momento chega o Delegado Geral de policia e observei ser ele um homem de muita sabedoria, para falar a verdade nem sabia quem era ele , quando ele se aproximou da janela onde estava ocorrendo o fato,se apresentou como tal, o carcereiro disse, por favor, desejo ver sua funcional, onde foi atendido prontamente. Houve uma breve conversa onde o Delegado era um ótimo negociador e resolveu o caso com sua presença e sua sabedoria, o carcereiro foi levado a sede da corregedoria e indiciado, mas naquele momento não foi preso e nem depois.
                            
Conheci também Giba e Betão, policiais do GARRA de Santo André, que foram presos, por um promotor, percebi na época que o promotor queria se promover, quando chegou a hora dos mesmos irem ao fórum para serem interrogados novamente, foi dada o ordem de escolta onde foram mais de 20 viaturas para escoltá-los. Isto para mim é uma tática para incutir culpa em alguém, na medida que ele é escoltado por tamanha força, talvez ele também seja culpado, digo isto ao olhos da população, Giba e Betão eram policiais dignos e verdadeiros, fizeram historia em Santo André.
                             
Conheci também Charles, investigador falado em São Paulo, antes de ir preso levou 16 tiros, estava irreconhecível, mas o tempo é o melhor remédio, diante de tanta cicatriz em Charles o apelidamos de monstro.
                            
Um dia durante um churrasco, monstro estava presente, e quando ele provou a carne, reclamou e disse, -vocês colocaram pimenta eu não posso comer pimenta, todos riram e um de nos disse, -você levou 16 tiros e não morreu, não é uma pimentinha que ira mata-lo.
                            
                            Havia também Fortunato, todo dia conversávamos na quadra, mas percebi que muitos não gostavam dele, ele era sistemático e não se misturava muito .
                            
Havia uma televisão no refeitório onde assistíamos os  jornais e via a cada dia policiais que eram presos, no dia seguinte estavam conosco.
                            
Escutei uma historia de meu amigo Agnus, não contada por ele, e sim por outro investigador que passou uns tempos preso juntamente com ele.
                            
Eles estavam no presídio, e veio uma escolta do GARRA, levar Agnus ao Fórum, nossas escoltas geralmente eram feitas por policias que na maioria das vezes trabalharam juntos, então existia um pacto, ninguém fugira sob qualquer pretexto nas escoltas feitas e assim seguiam. Não havia uso de algemas, a não ser que o juiz solicitasse a colocação na hora da audiência e não se colocava no chiqueiro da barca ( lugar de condução de suspeitos na viatura).
                             
Ao chegar a viatura com dois policiais Agnus se aproximou, era uma parati, com dois investigadores, e um deles já abriu a porta traseira para Agnus entrar, e tirou as algemas do bolso traseiro da calça, a fim de algemá-lo, neste momento ele explicou que era claustrofóbico, quanto a algema tudo bem, mas pediu para que sentasse no banco traseiro, o policial disse, - banco traseiro é para gente boa, você é ladrão e esta preso, será tratado como todos, houve pedido de todos mas o policial irredutível,  não se dobrou diante dos pedidos. Agnus foi algemado e posto no chiqueiro, chegando ao Fórum ao abrir a porta traseira Agnus estava todo retorcido, pois havia tido uma convulsão, o policial esperou ele se recompor e o levou ate a audiência.
                            
Na volta Agnus solicitou que voltasse no banco traseiro, pois a escolta presenciara o que havia ocorrido, novamente a resposta, você esta preso e como tal será tratado. Chegando no presídio Agnus novamente estava se contorcendo e estava desfigurado, onde alguns internos reclamaram, mas ate então tudo já havia ocorrido, e os policiais estavam certos, mas eles eram da policia e qualquer situação contra eles , era ali que eles iriam parar.
                            
No dia seguinte, logo pela manhã, chega um preso novo, quando todos se aproximaram para ver quem era e se conheciam o mesmo , era o policial que afrontara Agnus no dia anterior, o mesmo ao sair do presídio cometera algo que o levou a ser preso, e ali estava ele, assustado, inconformado e temendo pelo que havia feito. Mas Agnus ordenou que todos o tratassem bem, e relevassem o feito, pois não gostaria de ter em sua mente vinganças ainda mais contra colegas.
                          
No presídio da policia civil, todos os policiais que estão nas delegacias são solidários, e no fim do ano um grupo de internos fazem diversas cartas, pedindo apoio financeiro para a festa de final de ano. Bom pude realizar minha estatística naquela época, vejamos:

No DECAP há por volta de 100 DP’S, DEIC 10 ESPECIALIZADAS COM SUAS EQUIPES, DEINTER, DEMACRO, SECCIONAIS.
                             
Toda delegacia arrecada dinheiro e todos participam, normalmente ao final o chefe contribui com uma quantia maior, então vejamos:
Faremos por baixo essa conta porque na verdade, não sei o total de delegacias no Estado de São Paulo.
                                 
Calculemos que toda a delegacia mande cerca de 1.000,00 reais, sendo que mais ou menos 600, contribuem, totalizamos 600,000,00 reais, da para se fazer uma grande festa não é.
                            
Mas não é o que ocorre, uma meia dúzia, se apodera do dinheiro, e utiliza em beneficio próprio, na verdade para não dar na vista é feito um grande churrasco, que é gastado no maximo 20,000,00 e o restante onde vai parar.
                            
Digo isto, porque,presenciei o que ocorrera, essa meia dúzia diz a todos que o que for arrecadado será dividido por igual a todos, mas não é, eu vi policiais que a família levava comida de lá para casa pois não tinha nem o que comer.
                            
Se algum colega mandasse entregar vários engradados de refrigerantes, eles eram vendidos, porque os demais que nem sabiam que fora ganhado isto.
                              
Ao final, ouvia-se dizer que ate para a Disneylândia, famílias foram com este dinheiro, não sei se viajaram, mas quem trabalha na policia sabe que minha conta esta certa, ou se errei, errei para bem menos.
                            
Então aqui deixo meu recado, colegas da policia civil, se um dia decidirem ajudar alguém, façam sua arrecadação e levem o dinheiro para quem vocês realmente conheçam, e lá ajudem quem realmente precisa, analisem casos, e cheguem a uma conclusão, não há necessidade de receber cartas, é só ir ate la, tem um carcereiro la condenado há 300 anos, fudido sem nada, nunca vi ninguém o ajudar, então pensem bem.  

           Depois de algumas audiências, citarei uma principal. A vitima diante do juiz disse-lhe, que nenhum dos policiais haviam pedido dinheiro ou qualquer outro pedido, que não deu queixa dos policiais e nem sabia o motivo exato que ele estava ali, só disse estar indignado vendo policiais tratando policiais daquele jeito.
                            
Que foi a sede da policia obrigado pelo GOE, e que passou momentos de terror, que se tivesse que dar queixa dos policias por algum erro,iria à corregedoria e não no DECAP.
                            
Não houve sequer nada de depoimentos contrários em desfavor dos réus.                             Mas enfim, tudo estava talvez planejado mesmo com este depoimento da vitima, fomos condenados pela livre convicção do juiz e auxilio de uma fita gravada no interior do DECAP. Depois de meses de luta o Dr. Paulo pediu a identificação na fita gravada, o teor onde as vitimas disseram ter entregado um numerário aos policias, fato este não localizado, pediu também um exame chamado espectógrafo de voz, para identificar os interlocutores, o que foi negado. Enfim fomos condenados sem cometer o crime e como prova , uma prova ilegal.
                            
Restava agora recorrer da decisão no Tribunal de Justiça, onde lá não se vê, cor, credo, rico, pobre, sei que alguns ate reclamam das decisões por lá proclamadas, mas quem não quer ganhar tudo na vida.
                           
Bom no TJ houve uma lição de Constitucionalidade, e direitos, revogando nossa condenação e definindo que a legislação fora ferida com a arvore envenenada e que tudo que advir desta não presta, em outras palavras a fita gravada em afronta a nossa Constituição não vale para alicerçar a condenação, nem mesmo fazer frente aos depoimentos das vitimas, observou também patente cerceamento de defesa, enfim depois de longos meses fomos absolvidos criminalmente.
                            
Depois de tudo isso que passei voltei a trabalhar no 23 DP, permaneci la por alguns meses, confiando que as autoridades que passam por uma faculdade de direito e depois fazem pós ou mestrados, sabem diferenciar prova licita de prova ilícita, fui enganado em pensar assim.
                            
Ninguém lê um processo e da seu voto como nos Tribunais, na maioria das vezes eles seguem o que o anterior decidiu, então para mim não há voto, o que há é um espírito corporativista. Explicarei.
                            
Prova ilegal esta bem delineada em nossa Constituição, pois bem, nunca fiz direito apenas tenho uma noção, e sei também que um aluno ao iniciar seu curso, aprende a lex-fundamentales, criando assim um alto conhecimento do que é certo ou errado, ela é a base de tudo.
                            
Portanto o processo passou por vários doutores, bem como o processo administrativo, com uma prova que se impõe como uma montanha, porem vistas grossas ou tendência fizeram nossos dignos bacharéis, não verem a verdade. Mas sendo este fruto da arvore envenenada, todo fruto desta, será um mal que trará sementes da indecência.
                             Fiquei de 2001 á 2003, desempregado, fazendo bicos e sendo segurado por minha mãe, pois após sair da prisão perde-se a mulher que não o ama, pois quem ama segura a onda.

                             Um dia resolvi me encontrar com meu amigo Nazario, pois ele era formado em Direito, e me dava boas dicas de vida e profissionais, e ele me contou uma historia intrigante e vergonhosa.

                             Contou-me que: possui uma grande residência em Ubatuba, porem não costuma levar colegas de trabalho lá. Mas na mesma rua um Delegado, que aqui vou me referir como Delegado legal, possui uma residência e como Nazario o conhece, por vezes convidava-o para jogar bilhar e tomar alguns drink’s.
                           
Era véspera de natal, porem Nazario, inconformado com as injustiças que caira sobre nós, estava sendo procurado pela justiça, eu não entendia como, pois eu achava que deveria haver extensão de beneficio.
                            
Faltando por volta de 50 minutos, para chegar a 00h00m, Nazario pegou sua mercedez e resolveu ir ao centro comprar umas frutas para a família, no momento que abriu seu portão automático, avistou um veiculo, voyage, com três ocupantes, passando em frente sua residência, naquela época esse veiculo era muito usado na policia e havia alguns, que eram viaturas descaracterizadas. Um policial tem memória fotográfica, e lances difíceis de serem vistos por pessoas comuns é visto por policiais, acreditem isso é possível.
                            
Neste veiculo Nazario avistou e fotografou com sua mente, dois ocupantes na frente e o Delegado legal no banco traseiro, mas pensou deve ser amigo do Delegado. Saiu com seu veiculo, comprou as frutas na cidade e na volta, próximo de sua residência, pegou o controle remoto do portão, parou seu veiculo de frente e esperava a abertura completa para que pudesse adentrar. Neste momento se aproximou um voyage, com dois ocupantes que saltaram de armas em punho, e noticiaram assim:  - policia desça do veiculo, Nazario abaixou novamente o portão para que sua família não visse a lamentável cena.
                             
Nazario  foi levado para uma delegacia na baixada santista, e la chegando o colocaram numa sala, dizendo, - você ta procurado pela justiça e vai para uma penitenciaria aqui na baixada, vamos pedir sua remoção. Nazario respondeu – sou investigador de policia, meu direito é presídio especial da policia civil. Os ocupantes deste veiculo eram dois delegados, que riram com a indagação de Nazario e disseram, aqui você não tem direito e vai para onde quisermos  mandar-te.  Depois de algumas horas de ameaças e fingimentos por partes desses dois, eles afrontaram Nazario e disseram,  - você quer passar o natal em casa então, queremos 500 mil dólares. Nazario respondeu que não tinha esse dinheiro, então eles disseram, não tem, então é cadeia.
                             
Os delegados perceberam que Nazario ficou quieto por algum tempo e decidiram revistar sua residência, e o fizeram. Chegaram lá,  ai não seria mais surpresa para a família de Nazario, que presenciaram o ente algemado e os delegados que vieram para revistar a casa, agora pergunto qual era a finalidade da revista,  ninguém sabe, pois após duas horas de revista nada encontraram e resolveram voltar para a delegacia. Desta vez a família de Nazario acompanhou a ocorrência, ou hipotética ocorrência.
                            
Colocaram Nazario separado da família em uma sala e saíram, momentos depois passa pela porta da sala onde Nazario estava, o Delegado legal, que ao avistar iniciou o teatro. – você aqui Nazario, o que esta fazendo, o que aconteceu me diz.  Neste momento veio na memória de Nazario o instante em que o voyage, passará pela primeira vez em frente sua casa, os dois delegados que o prenderam estavam na frente e o delegado legal, no banco de traz.
                            
Nazario, disse o delegado legal, espera vou ver o que posso fazer, conversarei com meus amigos, os conheço. Nazario que se manteve quieto pois sabia que não passava de teatro, todos ali estavam combinados em acharca-lo.  Instantes depois o delegado legal voltou e disse, Nazario você sabe da sua situação, pague para sair dessa amigo, se não você será preso, pois os delegados estão irredutíveis.  Depois de muitos conselhos deste suposto amigo, Nazario se rendeu as pressões, visto que sua família passará o natal ali com ele nesta delegacia e disse, -- Doutor eu tenho 50 mil dólares na minha casa em São Paulo, pode ser,  - espere vou comunicar a eles.
                            
Imediatamente a proposta foi aceita, porem eles disseram que iriam com a esposa de Nazario ate São Paulo, buscar o dinheiro. Nazario recusou-se em expor sua esposa desta forma e disse, se eu não for, então esqueçam isto e podem me prender.  O Delegado legal disse, olha Nazario é meu amigo, então deixem ele ir comigo, ele não causara problemas, iremos eu, ele e sua esposa, concordam. Os delegados concordaram, pois aquele também fazia parte do show.
                            
No estacionamento estava a mercedez de Nazario, onde ele assumiu o volante, sua mulher no banco do carona e o Delegado legal no banco traseiro, rumaram para São Paulo.
                            
Depois do ultimo pedágio, Nazario avista um posto de gasolina e pede ao Delegado legal, podemos tomar um café, não comi nada a noite inteira e minha família passou comigo na delegacia, minha mulher também deve estar com fome, inclusive você, - podemos sim, disse o Delegado Legal.
                            
Nazario parou seu veiculo fora das vagas normais, pois pretendia tomar o café o mais rápido possível e resolver esta questão, e ao parar seu veiculo, há um procedimento para desligar o veiculo e retirar os cintos de segurança, porem o delegado como estava no banco traseiro, estava sem cinto e foi o primeiro a descer. Nazario, sempre foi um bom policial, como a maioria, verificou que o cansaço retardou sua saída do veiculo, inclusive de sua mulher, também observou que o veiculo hidramatico estava ligado e em posição de dirigir, o Delegado legal estava espreguiçando, ele acelerou com força, e o veiculo obedeceu, sua esposa assustou-se, mas ficou quieta, e olhando pelo retrovisor o Delegado legal, terminar de se espreguiçar e ver a mercedez partir.
                            
Agora imaginem comigo, o que o Delegado legal ira dizer aos seus comparsas, haha.
                             
Dias depois, Nazario ganha um hábeas corpus e não é mais procurado pela justiça, porem agora Nazario esta com sede de justiça.
                          
Eu em 2003 recebi um convite para trabalhar na FEBEM, onde meu posto era em Franco da Rocha, tinha escutado alguns boatos da FEBEM, mas era pior do que imaginava. Nesta fase da minha historia não direi nomes, mas esperem não saiam da poltrona tem muita adrenalina.
                             
Fui ate o Belém, para pegar um ônibus que era pago pela fundação para conduzir funcionários ate lá, mas tinha duvidas de qual seria o ônibus, então avistei um rapaz, magro com um farda preta, perguntei sobre o ônibus, ele disse que iria tomá-lo também, quando chegou, o ônibus ele cedeu sua entrada a mim e disse-me, bem vindo ao inferno.
                            
Quando cheguei , fui recepcionado por um líder, que reuniu todos e deu uma lição de moral, dizendo que não queria covardes ao seu lado, que temos que encarar a situação, bla, bla, bla.....foi a ultima vez que o vi, falou, falou e ele mesmo nunca entrou no pátio.
                            
Cheguei ao pátio e avistei as celas, estavam todas trancadas, com rapazes maiores que eu no tamanho, eles estava ali por aproximadamente 7 meses, após terem matado um funcionário a facadas, cabeças de bagres imaginei.
                           
Quando nos aproximamos, das celas com um funcionário, um adolescente disse, - o grande caso é o seguinte, estamos trancado no bagulho e se não nos respeitarem vão morrer também, todos olharam pasmos, eu nem liguei, mas imaginei outro Fininho na minha vida eu não agüento.
                            
Para se ter uma idéia, havia num pavilhão 5 celas, cada uma com aproximadamente 7 adolescentes, e quando tínhamos que abrir uma das celas para a saída de um deles, veja só, entrava no pátio, mais de 20 funcionarios, 8 vigilantes, sendo dois com cachorros adestrados, e ai avistei o choquinho da FEBEM, com escudos casca de ovo (escudos com pouco resistência), todos de roupa preta.  Então se abria a cela e se o adolescente tentasse investir, ai já viu.
                            
Os dias se passavam e eu imaginando como eles podiam ficar trancados sem sair, era difícil controlar as emoções. Comecei então a ver como os adolescentes tratavam funcionários, era assim.
                             
Eles chamavam os funcionários ate a porta das celas e diziam em tom ameaçador, quero uma camiseta, e rápido caralho se não trouxer você vai ver quando abrir aqui percebi que estavam ainda se vangloriando pela morte do funcionário, e todos que trabalhavam lá há tempos temiam, pois viram o colega morrer.
                            
Alguns funcionários não entravam no pátio nem com as celas trancadas, o choquinho as vezes ficava na porta.
                            
Um dia após um pavilhão ter recebido visitas, os funcionários pediram apoio para recolher 7 adolescentes, ai eu vi o que eles faziam. Quando eu caminhava para auxilio dos colegas, começou um corre corre, e alguns gritando estourou aqui estão com reféns, o choquinho na porta não entrou e olha que eles estavam equipados, 7 adolescentes aterrorizaram aquele dia, ao me aproximar tinha um componente do choquinho descontrolado e gritando precisamos de ajuda, são colegas la dentro, e sem perceber o mesmo me deu um empurrão, nem liguei e percebi a dor que ele sentiu ao ver as barbáries.
                           
Aproximei-me do portão de entrada do pavilhão e vi, dois adolescentes arrastando um funcionário pelo cinto da calça outro tomando varias pauladas, o terror havia se instalado, fiquei inconformado, vi um amigo de pavilhão ali próximo e disse arrume algo para nos proteger e tentar acudir aqueles infelizes amigos, foi quando apareceu em minha mão uma madeira, então entoei quem esta a meu favor, vários disseram eu,eu,eu, eu, quando adentrei a porta do pavilhão com os olhos raivosos e disposto a tudo, um adolescente pediu-me calma e disse vou resolver isso agora, então falei que seja rápido, no momento que ele me chamou a atenção ,outro adolescente escondido, desferiu-me um golpe com uma madeira, golpe este que veio a quebrar meu nariz, cai para traz seguro de que alguém atrás de mim me seguraria, estava enganado, cai ao chão e me arrastei para fora, pois quase me tornei mais um refém.
                             
Imediatamente atearam fogo na porta, pois são dados a eles colchões com uma combustão incrível. Resultado, vários funcionários feridos e um deles perdera o dedo mindinho em face as pauladas que o acertaram. Fiz o boletim de ocorrência , exame de corpo de delito, e outros procedimentos de praxe.
                            
Fiquei de licença, medica e durante este tempo fui intimado a comparecer na delegacia de Franco da Rocha para esclarecer os fatos, ai aconteceu um fato interessante.
                            
Era noite, um frio insuportável, quando na chegada os investigadores ficaram receosos, pois naquela época havia alguns ataques a delegacias, mas após todos os funcionários de identificarem, foi pedido para que aguardássemos fora da delegacia, não houve cordialidade nem segurança por parte daqueles policiais civis, ficamos ali e imaginei se houvesse um ataque eu morreria sem que o matador soubesse que não era policial. Ate que percebi a saída do delegado titular que estava de saída, nos observou e disse, o que fazem aqui fora, eu respondi Doutor de onde vim os policiais tratam as pessoas com mais respeito, eu falarei aos quatro cantos como fui tratado aqui hoje, ele me observou , chamou o investigador de plantão e disse tudo apenas no olhar, com raiva.                             O investigador abriu a porta e nos deixou compartilhar daquele local sem os cortes de frio do lado de fora.
                            
Dois dias depois recebi um telefonema em casa de amigos, para saberem como eu estava, achei legal, eles também me convidaram para entrar numa nova equipe do choquinho que estava sendo formada, pensei bem quase recusei, mas meus amigos disseram que o choquinho não corre risco e fica só do lado de fora, pensei um grupo criado para intervenção fica fora, imagine quem esta dentro.
                            
Quando cheguei, estávamos recebendo orientação de um colega que foi do GATE, este vou citar o nome pois foi um dos amigos fieis que tive la,inteligente ,me ensinou muitas coisas, Saldanha.
                            
Bom no inicio do grupo foi um choque de conflitos, cada um por si, foi dado o nome de grupo cinza. Recebemos auxilio dos grupos verde e azul.
                           
O grupo azul era quem nos ajudava, o coordenador do grupo era compreensivo e amigo, já o coordenador do grupo verde era contrario a criação do nosso grupo, nesta fase foi criado o cinza e o marrom, e quando podia Saldanha estava la dando instruções, resolvi, ficar na minha e não dizer que fui policial, mas percebi que todos ali, se eu não assumisse a equipe iriam para cadeia sem instrução de trabalho, a não ser as que Saldanha aplicava, mas ele era um só.
                            
Todo dia de plantão ficávamos do lado de fora, só entravamos quando íamos soltar algum adolescente, estava bom demais, mas internamente havia as desavenças. Saldanha ordenou que o líder do grupo fosse trocado a cada semana, ele tinha uma filosofia certa de que um líder não se escolhe ele nasce, e ele pode ser um líder bom ou mau.
                            
Ate que ao final houve votação e ao final me escolheram para liderar o grupo. Já na liderança percebi meu desafeto o coordenador do grupo verde, porem os componentes do grupo verde eram amigos. O coordenador do verde quando estava de plantão não mais auxiliava nas entradas no pátio, deixando a cargo e responsabilidade de meu grupo. As equipes foram baixando a guarda e quando entravamos no pátio, era só os funcionários e nós do grupo, aquilo não era função dos vigilantes.
                           
Adentramos no pavilhão, considerado um dos piores, eu nem sabia qual deles era pior, estava com um grupo que não sabia o que poderia acontecer, mas comecei a abrir, os olhos dos companheiros e a falar um pouco de formação de combate e proteção, ainda bem que falei. Neste dia no pavilhão E, fomos solicitados e ao fazer a formação sem a presença do grupo verde, por ordem do coordenador, escutei os adolescentes dizerem, vamos pra cima deles, que eles vão correr, são novos e vamos mostrar quem manda, imediatamente me aproximei de meu grupo, passei as informações e disse para ficarem preparados. Quando abriu aquela porta, os adolescentes cumpriram o que diziam e vieram para um confronto, certos da vitória, ordenei para grupo a formação em linha, e solicitei o retorno imediato dos adolescentes à cela, o que não fui atendido, eles voaram em cima dos escudos e não sei de onde apareceu facas artesanais, neste momento eu disse – não quero nenhum dos meus machucados, quanto ao outro lado pau neles.
                            
E aconteceu o confronto, conseguimos em questão de segundo fazer com que todos retornassem as suas celas, durante o confronto as demais celas estavam trancadas porem os integrantes lançavam leites, marmitex, maças, em nossa direção, ao final algumas escoriações de ambos os lados.
                            
Quando saímos o coordenador do grupo verde disse ser culpa nossa aquele fato, e que poderia ficar piores as coisas, eu não queria isto, então após uma conversa ele me orientou pedir desculpas aos adolescentes, pensei se é para o bem da instituição e do andamento do trabalho tudo bem.
                            
Quando me aproximei da cela que houve o confronto, percebi que não se tratava de desculpas, mas sim de uma afirmação de quem manda era ele o coordenador do grupo verde, fiquei furioso, sai do pavilhão inconformado. Houve uma reunião onde ele presidiu dizendo em sua sabedoria ser o melhor dos melhores e baixando a auto estima dos meus  companheiros, chegando ate dizer que não confiava em ninguém do grupo cinza, todos abaixaram a cabeça tristes pois achavam que poderiam perder aquele emprego, bom mais tarde essa resposta viria a tona.
                            
O coordenador do grupo verde se empenhava como se fosse diretor da unidade, mais tarde vim saber que prometeram um cargo a ele, quando não deram ele ficou desconsolado.
                                  
Houve a visita do secretario de educação, e observou nossos trabalhos e permaneceu  boa parte do dia, e quando se passaram uns 20 dias era anunciado o fechamento da unidade, com a presença do Governador Alkmin, como lhes disse nunca gostei de política, mas percebi ali que este homem fez uma coisa boa aos meus olhos, ele transferiu todos aqueles adolescentes para o tatuapé, dando lhes uma nova oportunidade, num lugar com condições para cursos, escolas, esportes, etc, Alkmin fez sua parte, já os adolescentes.
                            
Fomos todos para o tatuapé, mesmo com a inconformidade do coordenador do grupo verde. Bom, quando chegamos fomos tratados pelo chefe como um nada, todo plantão ele deveria mandar uma equipe para outra unidade existente em Franco da Rocha chamada Franquinho, adivinhem quem ia. O tatuapé era uma beleza bosques e silencio, enquanto Franquinho, chegávamos tarde da noite e ate nossas residências era outra caminhada.
                         
Um dia deram inicio as horas extras, então aqueles que não queriam ir para franquinho, foram pois la as horas duravam mais inclusive o trajeto era longo, se ganhava ai também.
                          
                          
Um dia haveria a troca de diretor do complexo de Franquinho, recebemos a missão de irmos todo dia para la, vejam bem fomos dar apoio, e as ordens eram para que não entrássemos no complexo, ficando do lado de fora literalmente por todo decorrer do dia, não havia banheiro e nem podíamos reclamar, nem água nos forneceram, reclamei para meu superior, ele não tomou providencias, então pensei, já que não há ordem e nem auxilio temos , organizei um churrasco no dia seguinte la fora, ninguém disse nada contra, parecia que estávamos num sitio, foi legal.
                           
Passaram-se quase 15 dias, minha equipe e eu estávamos pela manha no tatuapé, quando recebi um ligação de meu chefe imediato para comparecer com o grupo cinza em franquinho as outras equipes já estavam la para realização de uma incursão.
                            
Lá é formado por três unidades, sendo que duas deles já haviam sido tomadas pelos grupos marrom e azul, vale dizer com excelentes coordenadores, porem restava uma unidade.
                           
Algum funcionário de lá, ao ver as incursões se dirigiu ate a unidade  a ser tomada, e alertou os adolescentes dizendo,  - vocês estão de toca ai (frase usada por quem não sabe o que esta acontecendo), já tomaram as outras unidades só faltam vocês, quando chegamos na entrada o coordenador geral daquele local se dirigiu a mim e disse, olha esta tudo bem eles já sabem que vocês estão aqui, vão se render entrem despreocupados. Quando ele se retirou eu disse para meus companheiros, ordem e atenção, não esqueçam a formação, fiquem juntos.
                            
Nosso destemido chefe entrou na frente, havia uma escada, o inimigo esta em piso inferior o que era uma vantagem, mas meu chefe ao invés de aguardar e seguir junto com o grupo tinha a mania de resolver as situações sozinho, então foi ai que houve uma surpresa, todos os 97 adolescentes estavam armados com facas artesanais e caixas de leite, quase pegaram meu chefe, agora imagine só 97 adolescente contra 10 componentes do grupo cinza.
                            
Naquele dia percebi, que estava acompanhado de bravos guerreiros, no momento em que a vida do nosso chefe estava em perigo onde os adolescentes avançavam furiosos, a fim de pegar qualquer um e trucidar e ao final dizerem que não foram dominados aos demais das outras unidades. Eles se depararam com o grupo cinza, sem nenhuma palavra, somente ações de homens com propósito de defender a missão, avançamos com escudos, tonfas e a coragem que Deus deu a cada um.
                           
A frente uma parede de adolescentes armados e nosso grupo avançando, os adolescentes não se intimidaram e gritavam, nos só recuamos para o batalhão de choque da pm, vocês aqui vão morrer, avançamos, e eles gritavam assim – família (termo usado por eles para indicar grupos), é tudo nosso, vamos matar todos esses filhos da puta, e nos avançávamos, quando do choque entre nós e eles, houve um breve confronto, e eu ali no meio lutando pela minha vida e de meus companheiros, luta acirrada, ate que um deles recuou, ai encurralamos todos em sua celas e saímos vitoriosos, tenho certeza que meu chefe ficou aliviado em ver que meus companheiros não recuaram pois a vida dele também estava em jogo, este evento teve conhecimento por toda a febem.
                           
Depois desse episódio, nos deram todas as manhas, café, banheiro, não ficávamos mais do lado de fora, mais as coisas nem sempre duram para sempre, o diretor do complexo escutou algumas gargalhadas dos homens do grupo cinza, o local era longe das unidades, porem ele elaborou um documento com o seguinte teor, não me recordo mais sei que era para os homens falar baixo, um tipo de afronta não sei por que, o documento tinha que ter meu visto, pois bem fui avistar na sala dele, e disse que ele era um ingrato e que não precisava elaborar documento era só falar comigo, rasguei o documento e me retirei , esperei sansões, mas nada houve.
                            
Os dias se passavam e os adolescentes são assim, eles chutam uma bola no funcionário, dizem foi sem querer, atiram um pedra dizem não era pra acertar, dão uma trombada com você e dizem desculpa, a coisa vai crescendo e quando os funcionários da unidade percebe lá esta ele, refém de novo, ai em certas situações era necessário o choque.
                            
Percebi mudança de comportamento por parte dos adolescentes, fiquei esperto e alertei meu grupo, as vezes eu era meio chato com meu grupo, mas tudo voltado a segurança, eu não queria ter o desprazer de perder um confronto e ter que comunicar a mãe ou a esposa de um companheiro, me sentia responsável por eles, se eu ordenasse para eles entrarem seja ela qualquer unidade, então eu observava,para não colocar meus homens no fogo.
                            
Quando tínhamos plantões noturnos, ninguém é de ferro todos queriam dar uma cuchilada, então eu fazia uma escala noturna de guarda, posicionadas em pontos estratégicos, dependendo da unidade eu alertava, eu irei fiscalizar se eu pegar a guarda dormindo todos irão ficar acordados, e assim nunca tivemos surpresa.
                            
Um dia por volta das 23h00m, em Franquinho, adolescentes reinvidicavam enfermaria, então percebi que queria sair para ver como estava o lugar, e não me perguntem mais adolescente só não foge todo dia da FEBEM porque não querem.
                            
Acordei o grupo inteiro, e disse vamos todos escolta-los ate a enfermaria, eram dois adolescentes, e alguns componentes do grupo não gostaram da escolta , mas obedeceram, fomos em 15 homens, pois havia alguns puxando plantão conosco, novamente por volta de 1h00m da madrugada outra solicitação, ai peguei o enfermeiro e levei-o ate a unidade, juntamente com todos do grupo, aqueles adolescentes perceberam que estava difícil uma tentativa de qualquer coisa. Quando de nossa rendição veio o grupo verde sem o coordenador, então conversei com o substituto e passei as informações, e disse fiquem espertos não vacilem, então fomos embora preocupados.
                            
Por volta das 19h00m, o grupo verde se reuniu na sala para jantarem, os acreditavam estarem todos os adolescentes trancados, terrível engano, um unidade conseguiu dominar o pobre do vigilante e se apoderaram do radio comunicador, cerceando assim a comunicação. Todos reuniram-se com facas artesanais , pedaços de paus e foram em busca do grupo de apoio, chegando no local, surpreenderam todos no interior duma sala, onde não houve tempo de reação, então houve confronto sem que os homens daquele grupo tivessem os equipamentos ao seu alcance, resultando muitos machucados do grupo, um deles tomou uma facada que perfurou um pedaço do coração, só não morreu por sorte divina, durante o confronto os membros do grupo se dirigiram em baixo de pancadas para um portão existente ali próximo, que dava acesso a parte externa do complexo. Este portão fica sob a fiscalização de um vigilante que tem ordens de não abrir em hipótese alguma, mas ao se aproximarem os adolescentes não contavam com a presença do COE, nem o grupo esperava, os policiais disparam as calibres 12 com munição de borracha , fazendo assim o salvamento daquele grupo, não sei detalhes, mas houve falhas na segurança.
                            
O COE, são policiais do choque, o interessante é que eles onde quer que estejam procuram terra para se acomodarem, e usam camuflagem, a noite é difícil velos, mando aqui um abraço a todos que nos auxiliaram e muito, durante aqueles dias, obrigado Batalhão Tobias de Aguiar.
                           
Bom isso repercutiu e deu o que falar, porem tínhamos varias reuniões com nosso superior, mas percebi que  não entendia nada de formação e não se cogitava nenhum treinamento, então decidi treinar o grupo cinza.
                           
Todo dia treinávamos em nosso posto, formação em cunha, em linha, fila única, fila dupla, incursão, recuo, confronto, estávamos preparados a cada dia mais.

             Um dia ao voltar na UI-Vila Maria, conversei com a coordenadora de segurança, sim era uma mulher, com experiência e tino. Chamou-me na sala dela e mostrou-me uma serie de bilhetes interceptados, oriundos dos adolescentes. Havia cerca de 10 bilhetes, tomei o cuidado de ler um por um, e cheguei a seguinte conclusão.

            Os adolescentes estavam estudando a segurança, principalmente no horário noturno, onde os funcionários não conseguiam recolhe-lhos em suas celas. Os bilhetes relatavam horários, quem dormia, qual plantão era sujeira.
                            
Como eu fui policial, interpretei como uma tentativa de resgate vinda de fora para dentro, então elaborei meu relatório e enviei rapidamente ao meu superior imediato, o qual percebi que não tomou medida cautelar nenhuma, então naqueles dias adiante contaríamos somente com Deus.
                           
Num domingo pela manhã, era dia de visitas, onde havia varias pessoas do lado de fora aguardando a entrada, então resolvi posicionar o grupo na unidade da frente e me dirigi a UI dos fundos, há uma rua lateral que leva todos ate aquela unidade. Chegando la realizei uma ronda, pois era dia de visita e em qualquer cadeia o respeito neste dia é imprescindível, mas eu estava errado.
                           
Ao terminar minha ronda, feita sob a proteção de Deus, pois estava sozinho, passei na portaria para cumprimentar os vigilantes e avisa-los de nossa presença pelo complexo. Quando estou dentro da portaria, entra um vigilante a toda velocidade, tranca a porta e avisa, - estão vindo ai, - quem, disse eu, - ora os adolescentes. Neste momento agradeci a Deus não estar lá, pois acabara de fazer a ronda, e se os adolescentes me pegam, sabendo que eu era do grupo de apoio, eu estaria morto.
                            
De dentro da portaria, ouvia-se o corre, corre, então fiz contato com meu grupo que estava na outra unidade, sem sucesso, achei que os rádios falharam quando mais precisei. Neste momento olhei pelo vidro, e vi claramente um adolescente passar com uma arma na mão, vista também pelo vigilante que disse, - vejam eles tem ate uma arma. Nunca vi tanto adolescente correndo para liberdade, insisti em meu contato via radio, ate que a central tatuapé copiou e enviou reforço, mas eu teria que esperar, pois ate atravessarem a Av. Celso Garcia, levaria uns 20 minutos. Quando avistei meu grupo tentando impedir a fuga, mas achei estranho pois não haviam feito a formação que eu treinara sempre, havia algo estranho, então não foi eficaz a ação.
                           
O grupo conseguiu travar cerca de 40 adolescentes, e quando os levaram de volta a unidade do fundo e me encontraram, quando me relataram o seguinte:

           No momento em que houve pedido de socorro pelo radio, houve a formação para então avançar ate o fundo, na fila onde estavam os visitantes, se destacaram dois indivíduos, armados com pistolas semi-automáticas, os quais dispararam inúmeras vezes contra o grupo cinza. Indefesos e sem armas os componentes tiveram que se protegerem para não serem baleados.
                            
Um componente foi baleado na barriga abaixo da cintura, pois estava de colete a prova de balas, e quando virou de costas em virtude de ser atingido, foi acertado novamente pelas costas, desta vez o projétil atingiu o colete.
                            
Os integrantes do grupo orientaram uma Van, que estava proxima e solicitaram socorro imediato para o companheiro. Neste momento vindo da marginal tiete, entra dois veículos sendo um deles da marca Audi, com mais dois integrantes atirando na direção do grupo, não tinha mais onde se esconderem, agora era só contar com a ajuda divina.
                            
Estes veículos pararam, com a janela e portas do lado do passageiro voltadas para o pelotão de adolescentes que viam de encontro, os veículos saíram em disparada pela marginal entupidos de moleques.
                            
Após isto continuamos a nossa ação nos fundos , eu  com o coração apertado imaginando o estado do companheiro baleado e tendo que orientar a ação, vi alguns componentes de cabeça baixa, então resolvi fazer uma reunião relâmpago.
                            
Então eu disse com voz firme: -Senhores houve danos colaterais, em virtude de nossa função, devemos encarar esta situação como algo a aprender e mitigar, vamos terminar nosso serviço com ordem e disciplina. Neste momento chegou reforço, adentramos a unidade e realizamos revista e recolhemos os adolescentes. No fim do dia orientei os companheiros de que todos deveríamos visitar nosso colega e mostrar-lhe que não estava sozinho.
                            
Fomos ate o hospital, ele havia passado por uma cirurgia e estava inconsciente, e deveríamos retornar em três  dias. No terceiro dia retornamos, ele estava acordado, seu quarto ficou preto com nossas fardas, pude ver a emoção em seu olhar e notar que aquele ato fez bem a ele. Sua mão estava presente e enviou-me um olhar de agradecimento pela aquela visita, dali em diante todo dia havia uma escala, feita no grupo para visitar o companheiro.

            Dias depois em discussões sobre o assunto, comentei sobre a arma que vi, então um de meus chefes insistia que não houve arma, mais eu insistia que sim. Não sei o motivo mais ele defendeu essa idéia de que não houve arma saindo de dentro da unidade, fiquei boqueaberto, pois eu havia enviado um relatório noticiando que isso poderia ocorrer, nenhuma providencia foi adotada, e agora isso.

             Tempos depois entendi que, ao contratar uma empresa terceirizada de segurança, para garantir o acesso á Unidade, onde houvesse alguma falha na segurança, isto acarretaria quebra de contrato. Talvez seja isso, que meu chefe defendeu erradamente. A empresa continuou por tempos na fundação.

               Recordo-me um dia estar conversando com meu chefe e ele me disse. A Fundação não entende muito de controle de empresas de segurança terceirizadas, então diante de duvida de infração ele era consultado e dava um parecer. Antes de oferecer tal parecer, disse ele que, pedia discernimento a DEUS, para ajuda-lo  a tomar a decisão correta, o que eu acho diante do que descrevi que era mentira, mas só ele e DEUS, saberão da verdade.

             Houve mais alguns casos, em que era proibido falar sobre arma, meu chefe não era a favor de grupo nenhum, mas sempre contava com eles para os serviços. Ele não auxiliava nenhum dos grupos para elaboração de boletim de ocorrência, o que em algumas situações revertia contra o grupo. Alem de expor os componentes em trabalhos onde eram previstos à vigilantes, digo isto porque, homem de farda preta morria, se vacila-se, mas nosso chefe nem queria saber.                             Por vezes adentrei na sua sala, para pedir auxilio e 90%, não havia resposta.

              Voltamos a puxar plantão no tatuapé e vila maria dois complexos complicados, com adolescentes terríveis, e iniciava-se uma onda de rebeliões com reféns, quase sempre era assim, pois o refém era a garantia de que não entraríamos, em seguida era ateado fogo na entrada, quem mais fizer rebeliões era propenso a ser líder entre todas aquelas unidades, e a que ficou sendo líder foi a UI-12.
                            
Numa rebelião, lembro-me de que os adolescentes pegaram os funcionários como reféns, e obrigaram os mesmos a subirem no telhado, isto garantia que o local de difícil acesso, impediria qualquer equipe de se aproximar, porem com o desespero do funcionário refém, ele se lançou lá de cima, vindo a quebrar sua perna em três lugares.
                            
Os adolescentes, recuaram , voltaram ao pátio e pegaram mais dois reféns, desta vez, amarraram suas mãos para traz e outra corda no pescoço do refém, pois se ele pulasse do telhado morreria enforcado, alem de serem barbaramente torturados.

            Houve também uma noite em que se iniciou uma rebelião, onde os adolescentes conseguiram ganhar o parque. Estava de plantão o grupo branco, juntamente com o grupo cinza.
                            
Encontramos-nos próximo ao campo, assumi o comando, e o que vou lhes escrever agora, só quem esteve naquele momento saberá que estou dizendo a verdade.
                            
Formamos os grupos em linha, um do lado do outro, para dar a impressão do paredão intransponível, todos de preto, caneleiras, escudos e tonfas que se quebravam rapidamente. A nossa frente outro paredão de adolescentes, pois eles havia quebrado as portas de três unidades, perfazendo um total de mais ou menos 300 adolescentes, contra mais ou menos 24 componentes, sendo 12 do grupo cinza e doze do grupo branco.
                             
Os adolescentes haviam estourado o setor de manutenção pela décima vez, e ninguém mudava o setor de lugar, neste local eles se armavam de picaretas, pás, enchadas, foices, cortador de gramas, e outras ferramentas.
Ordenei ao grupo para avançar dez passos, com caras de mau, apesar do grande medo, os adolescentes ameaçavam avançar, então ordenei mais dez passos a frente, todos obedeceram. Percebi que alguns adolescentes olhavam e não acreditavam que ainda estávamos ali, visto que eles estavam com todo aquele armamento, alguns recuavam timidamente. Lembro que alguns componentes travaram as pernas, então eu com voz feroz de incentivo, os conduzia ate a formação.
                            
Nessa linha de comando conseguimos que os adolescentes recuassem ate a UI-04, onde a maioria deles entraram com medo, sorte a nossa, então com a entrada de aproximadamente 70%, ordenei que fosse trancada a porta da unidade, contendo aqueles adolescentes ali. O restante correu em busca da liberdade, encontrando nos portões a ROTA, COE, CAVALARIA, quando decidiram voltar e la estávamos nos dos grupos cinza e branco.
                            
Os adolescentes decidiram entrar em confronto conosco, pois era mais fácil de que com os oficiais presentes, foi então que avançaram e iniciou-se um intenso confronto, onde houve escoriações de ambos os lados, porem obtivemos êxito em conter os adolescentes. Em seguida todos são levados a enfermaria para avaliação depois são conduzidos a unidade.
                            
O grupo branco me surpreendeu, por tamanha coragem, determinação, controle emocional, deixo aqui meus respeitos a todos.      

            Acontecia de tudo, cachorro, mordendo vigilante, o cavalo do PM da cavalaria saia em disparada, era cada dia uma novidade. A coisa ficou tão ruim que foi acionada as viaturas de ROTA, e eles puxavam o plantão la conosco, os adolescentes provocavam, pois sabiam que eles não podiam passar das cercas, mas os adolescentes sabiam com quem estavam mexendo e algumas vezes eram agredidos por outro companheiro por ter mexido com policiais da Rota.
                              
Todo dia tinha refém naquelas unidades, alguns casos muito feio quando a agressão  ao funcionário era violenta demais. Passei então a equipar meu grupo, com algumas coisas, luvas, lanternas, imobilizadores, gás lacrimogêneo, etc, o gás era proibido, mas quem proibiu não conhecia uma rebelião e nem sabia como era ser refém daqueles adolescentes.
                           
Um dia fomos informados de que deveríamos puxar nosso plantão na unidade da raposo tavares, quando acabamos de chegar, houve solicitação para que retornássemos ao tatuapé, pois acabara de iniciar-se outra rebelião e desta vez com requinte de mais crueldade. Pegamos a marginal tiete e como sempre um transito, meu coração apertado pois não sabia o que ia encontrar, demoramos quase duas horas para chegar e quando adentramos ao complexo tatuapé a rebelião parecia ter inicio, pois eram tanto vigor vindo por parte dos adolescentes, nos dirigimos para a cozinha, ali dava acesso ao telhado de quase todas as unidades próximas, no caminho olhei para o céu e avistei alguns helicópteros sobrevoando as unidades e levando a noticia de horror ate os lares do Brasil.
                            
Quando chegamos no telhado, demos de cara com vários  adolescentes e em poder dos mesmos, um refém, percebi que alguns adolescentes armados tentavam esfaquear a vitima, então meus companheiros não exitaram em salvar aquela vida, avançaram e os mesmos libertaram e correram, iniciamos uma varredura pelo telhado. Quando chegamos ao fim de novo, nos deparamos com os adolescentes, encurralados um deles tentou ferir um dos componentes do grupo cinza  e foi dominado, outro que estava em cima do telhado sentado em cima de uma faca, a todo instante ameaçava pega-la mesmo com as ordens de um componente, dizendo para ele não pegar aquela faca, neste momento nosso chefe se põe a frente do adolescente sem saber o que estava ocorrendo, o adolescente viu a oportunidade de ferir pelo menos um de nos, mais o bravo integrante do grupo cinza permaneceu la, e desferiu algumas tonfadas na direção daquele sujeito, para proteger a vida de nosso superior que estava ali despreparado, neste momento filmagens, fotos foram tiradas de meu companheiro e ate o acusaram de agredir um adolescente , sem atentarem para a causa.
                               
Eu já não agüentava mais, pois estava cansado todo dia rebelião, revista, transferência, passaram mais alguns meses, fomos designados para a cidade de Ribeirão Preto,  e adivinhem rebelião, quando chegamos ao complexo, nos dirigimos a umas das unidades, onde havia num quarto 5 adolescentes, e os funcionários só abririam com a nossa presença estavam temerosos. Meu chefe queria conversar, então eu pedi licença, peguei as chaves da cela e com meu grupo me dirigi, e pensei, muita conversa dara chance desses sujeitos nos afrontarem e eu não quero mais confrontos com meu grupo, aproximei-me da porta e falei com voz firme , - para o fundo da cela, lembrei da penitenciaria, sem gracinha tudo acabara bem se os senhores nos respeitarem, caso contrario seriam contidos com a devida força necessária, não houve maiores, problemas, porem nesse instante meu chefe se aproximou e sussurrou em meu ouvido,  -ande com isso , acaba de iniciar outra rebelião em outra unidade deste complexo, recolhi aqueles adolescentes e me dirigi ao local indicado.
                            
Todos os adolescentes estavam no telhado, um cena horrível de ver, mas como havia treinado meus companheiros , orientei no seguinte, 6 de vocês fiquem aqui na entrada da galeria e outros 6 venham comigo, fomos ate o fundo verificar se havia alguém na perimetral, ainda bem que não, neste dia Saldanha estava conosco,  subi no telhado e quando os adolescentes nos avistaram, saíram correndo, era o que eu queria, ninguém no telhado,mas não consegui tirar todos, pois havia um grupo que estava com um refém no telhado, preferi não colocar a vida dele em risco pois os adolescentes estavam descontrolados.
                             
Retornei a frente da galeria e disse, não vamos deixar eles ganharem a galeria, porque perder aquele local seria perder tudo, pois dali eles poderiam ate chegar a administração e daí pra rua era fácil.
                            
Onde estávamos, havia uma grade sobre nossas cabeças, sorte a nossa, porque os adolescentes arrancaram reatores da instalação elétrica e lançaram contra o grupo, eram do tamanho de um paralelepípedo, jogavam pedras, cadeiras, tudo que tinha nas mãos. Um integrante do grupo avistou um adolescente e pediu calma, dizendo, - acalme-se garoto, o adolescente ficou furioso, pois não sabíamos que garoto, no meio deles era homosexual, então xingou-nos por alguns minutos.  
                            
Observei uma grande movimentação de alguns tentando quebrar os cadeados, então posicionei o grupo e fiz uma movimentação de ameaça, os adolescentes recuaram e voltaram para o pavilhão. Saldanha se aproximou e foi negociar, os adolescentes não quiseram saber e atingiram Saldanha com um pedra, quase perdeu sua visão. Tiramos Saldanha daquele enrosco e pedidos socorro a ele, quando recuamos os adolescentes saíram para a galeria, isso já era quase 16h00m e não tinha apoio, o corregedor da Febem estava la durante todo o dia nos acompanhando, neste momento ordenei, novo incursão para que eles retornassem, foi quando os adolescentes expuseram seus troféus, dois reféns, era o que tinha e mais um no telhado, olhei nos olhos dos reféns,parecia um sinal, dizendo assim, vamos avançar e ao mesmo tempo a refém vai se desvencilhar desta situação e salvaremos pelo menos estes, foi o que aconteceu. Retiramos dois reféns, mais havia um no telhado, os demais adolescentes sem moeda de negociação se fecharam em seus respectivos pavilhões.
                             
No telhado 4 adolescentes diziam, esse nos mataremos, então eu disse, -não façam bobagem todos estão em sua celas voltem também e liberem este refém, neste momento um de meus superiores que presenciara a morte de um funcionário em Franco da Rocha, entrou em choque e começou a gritar, chorando desesperado com os adolescentes, - eu quero este refém larguem ele agora, o quero aqui em baixo, e repetiu isto varias vezes, todos ficaram comovidos inclusive os adolescentes, mas nossa comoção era forte, lembrei do ditado da policia ( a cortesia não compromete a valentia), neste momento os adolescentes disseram esta bem, vamos solta-lo , vocês prometem que não haverá agressão, dissemos que sim, e quando se preparavam para o feito chega nosso reforço o tatico móvel com um tenente, que nem se deu o trabalho de chamar alguém para ver como estava as negociações.
                            
Quando chegou se dirigiu aos adolescentes que se preparavam para soltar o refém e disse,  - vim aqui negociar estou com um promotor aqui fora, neste momento os adolescentes pegaram de novo o refém e disseram agora queremos falar com o promotor e teve inicio tudo de novo, ate que mais umas duas horas realizaram diversos pedidos entre eles visitas  intimas e liberou o refém.
                           
Quando voltamos para São Paulo, a coisa tava mais feia ainda, a FEBEM resolveu contratar 2000 homens para segurança, os quais eu deveria dar-lhes o curso.
                            
Foi me dada a missão de instruir os novos companheiros, eu deveria me afastar do grupo cinza e deixar um substituto, ninguém queria assumir esta responsabilidade, era demais, porem alguns do grupo achavam fácil minhas decisões e as vezes faziam menção de me afrontarem, darei um exemplo:
                            
No grupo tinha um estimado amigo, que, reservarei o nome dele e de todos, o qual participava de uma conversa com os demais integrantes, e percebi que a conversa estava sendo calorosa, porem baixa para que eu não pudesse ouvir, parecia-me um plano, uma estratégia, por varias vezes este amigo olhava em minha direção e todos o seguiam no seu olhar. Eu estava a uns 10 metros de distancia, porem já percebi que era algo comigo, mas esperei e respeitei a reunião.
                             
Nesta época havia muitas injustiças e desigualdades, em relação ao nosso grupo por sermos novos na fundação, nosso superior nos excluía das coisas boas, como trabalhar a noite que tinha adicional noturno, ainda mais as horas extras, por varias vezes conversei com ele, porem ele me ignorava,mentia e não resolvia esta questão, eu tinha que conviver com isso e não me queixar aos meus companheiros, sendo eu coordenador, deveria me queixar com meu superior e não com meus companheiros ( as queixas sobem e não descem).
                            
Voltando a reunião, percebi que o clima estava ficando quente, era como se estivesse fervendo uma água ao fogo, e estava começando a borbulhar. Aquela roda se desfez como uma explosão, todos ao mesmo tempo, que cena incrível, vieram em minha direção com caras de furiosos, eu sem saber de nada o que ocorrera, meu estimado amigo puxava a tropa nesse instante. Percebi que haveria uma insubordinação contra mim, mas segurei ate o ultimo instante, queria saber o motivo, a distancia entre nos, diminuía rapidamente.
                            
Percebi que meu grupo, adotou uma estratégia, de me afrontar e fazer-me dar respostas do porque, eles não iam para o turno da noite, foi uma cena incrível, fizeram uma roda em mim, como se quisessem dar um recado, assim, - agora vamos ver do que você é capaz, ou você ira baixar a cabeça, ira gaguejar, ira baixar os olhos, então dominaremos você pra sempre. Infelizmente meus companheiros não sabiam de onde eu vim, nem como seria meu procedimento naquele momento, mas esperei mais um pouco.
                             
Então enquanto os demais faziam a roda, meu estimado amigo era o locutor do grupo, foram espertos, fiquei feliz com o que vi, ordem e disciplina ate mesmo na insurreição, um só da o comando. Meu estimado amigo parou na minha frente olho no olho, respiração controlada, porem o corpo dizia que ele estava firme naquele momento, e dali pra frente o que fosse perguntado deveria haver uma resposta e caso não houvesse uma bem explicada, algo iria ocorrer.
                            
Então se iniciou a sessão com todos a minha volta, e meu amigo disse assim em tom firme e forte, - é o seguinte chefe, queremos saber agora, como fique essa escala de plantão, queremos ir para o turno da noite, queremos uma resposta agora, a gente vai ou não.  Neste momento resolvi fazer 5 segundos de silêncio, o que funcionou, olhei firme nos olhos dele e disse,   - não.
                            
Todos olharam um para o outro, esperando de mim uma extensa explicação, e ninguém mais ousou perguntar mais nada, então desfiz a roda e disse, - para seus postos, senhores.
                            
Passado cerca de 40 minutos, solicitei meu amigo, e conversei com ele, sorrindo, e disse, - amigo você achou  que iria intimidar seu superior, olha você será um grande substituto meu, digo isto, pela disciplina que você organizou, sua reinvidicação foi planejada e audaciosa, você só não contava com a minha estratégia ne, ele sorriu e disse, nossa reunião foi tratada e dita o seguinte, vamos intimidar o chefe, pegar ele de surpresa, ele dará a resposta, alem de ficar encabulado, mas tomamos uma curva. Também disse a ele que o mesmo seria coordenador um dia e que seus subordinados fossem iguais a ele.
                             I
Isto estreitou ainda mais minha confiança com meus companheiros, mas tinha alguns que pensavam em me dar uma volta, mas estava longe de acontecer isto.

           O comando do grupo ficou nas mãos de dois companheiros, e eu fui dar aulas de instrução. Saldanha e eu preparamos aulas teóricas, enquanto os coordenadores do grupo marrom e azul dariam aulas praticas.
                            
Foi uma loucura, chegaram no complexo alguns ônibus, trazendo os futuros seguranças, estava estimado 500 alunos por semana. Os quatro instrutores resolveram assim, 250 alunos aula teórica ate meio dia, 250 alunos aulas praticas, depois trocamos e assim foi.
                           
Durante o tempo em que permaneci dando aulas, pensava muito nos meus companheiros, pois sabia que se o comando não fosse preciso e firme algo ocorreria, mas por enquanto estava tudo indo bem.
                            
Durante o curso, varias palestras foram dadas, inclusive aulas de gerenciamento de crises, dadas pelo pessoal do batalhão de choque, e nessas aulas ate eu era aluno, aprendi muito.
                            
Não havia cadeiras para todos aqueles alunos, então todos sentavam no chão, e nós instrutores andávamos entre eles, fazendo dinâmicas, o Sr. Saldanha era demais, aprendi muito com ele.
                            
Entre os alunos percebi que um deles, estava concentrado demais, com o corpo inclinado para frente, muito interessado, não que os demais não estavam, mais ele estava mais era o Alessandro vulgo GUARA. Nos intervalos para café, la estava ele me perguntando algo. Quase no final do curso, tive a noticia que meu grupo quase teve baixas, procurei me interar do assunto.
                            
Em meus dias como coordenador, eu procurava deixar meus companheiros sempre alerta, chegava a ser ate chato, mas ate hoje nunca alguém se machucou em incursões comandadas por mim, toda pessoa que estivesse sob minha proteção eu procurava ser zeloso.

            No curso, umas das instruções dadas por mim era a guarda pelo equipamento. Eu dizia a todos que onde estivessem, deveriam estar perto de seu escudo e com seu equipamento a mão, para não ser pego de surpresa. Os componentes deveriam posicionar os escudos de modo que sob qualquer ocorrência, ficaria fácil o acesso ao mesmo. Eu implantava isso também em meu grupo cinza, porem alguns achavam que eu era dedicado demais, até que um dia:
 O grupo estava na Vila Maria, numa unidade com adolescentes níveis 5, significa que deveríamos tomar mais cuidados, porem eu estava dando instruções e o grupo estava sob o comando de outro companheiro.
                            
Segundo relatos, durante o dia tudo transcorreu normalmente, chegando a tarde a vontade de voltar ao lar era imensa, porem torcíamos, para que nada houvesse naquele horário pois sem rendição ninguém abandonava o posto, quando os componentes avistavam o veiculo que trazia o grupo para assumir era um alivio, quem estava la, procurava sair rápido pois poderia acontecer algo, naquela transição e o grupo deveria permanecer junto com o outro.
                           
Numa dessas rendições estavam os componentes do grupo cinza, os quais aguardavam rendição, todos ansiosos para irem embora. Os componentes estavam aguardando a rendição próximo a  portaria onde permanecia um vigilante, pois dali dava para avistar o grande veiculo que chegava com a rendição.. Distraídos, um a um deixava o local onde estavam os equipamentos juntamente com os escudos de proteção, concentrados na espera da rendição, quando aconteceu um fato inesperado.
                                 
Os adolescentes, conseguiram escapar, não se sabe como conseguiram ganhar a galeria, não fizeram barulho, dominaram todos a sua frente sem dar um pio, caminhavam e sabiam que ali na frente estava o grupo, para serem devorados por eles. Quando no corredor avistaram os escudos, sem ninguém por perto, ficou fácil era só se apoderar do equipamento e o grupo ficaria frágil. Quando estavam a um passo dos escudos ouviu-se um grito, - fuga, então ouve o corre corre, e quando os componentes pensaram em pegar os escudos, eles estavam nas mãos dos adolescentes e desta vez com facas também, restou então correr e se abrigarem na portaria. Quando entrou o ultimo componente, restava só fechar a porta,pois os adolescentes estavam furiosos, querendo um troféu, que era a cabeça de um dos componentes do grupo. Ao se aproximar para o fechamento rápido daquela porta de ferro,onde os adolescentes não conseguiriam penetrar, um dos componentes pega firme a porta e num movimento rápido, lança a mesma com força para seu fechamento, ....nesse segundo surge algo que travou no ultimo instante o fechamento, era um dos escudos do grupo e atrás deles diversos adolescentes armados com facas, ficando ali um lugar forte, mas vulnerável  naquele instante.
                            
Com o travamento da porta, juntaram alguns componentes para com sua força, segurasse a porta e impedissem aquele massacre, no momento em que seguravam, pela fresta deixada em virtude  do escudo, os adolescentes enfiavam as facas com ferocidade, no intuito de atingir pelo menos um. Foi uma guerra intensa, segundo declarações, ate que um deles resolveu puxar o escudo, e em meio as facas o mesmo fora atingido,provocando um ferimento leve, perto das vidas que salvou naquele momento.
                            
Ninguém ate hoje se orgulha disso, mas foi uma tremenda lição, que espero que os grupos tenham aprendido.
                            
Fechada a porta restava então pedir auxilio via radio, havia na frente da unidade, uma perua kombi do batalhão de choque, com três componentes, quando receberam o chamado foram em socorro, com as calibres 12 munidas com cartuchos de borrachas e salvaram os componentes, impedindo a fuga.
                             
No dia seguinte, assumi o grupo novamente  e tentei erguer a moral dos amigos, começamos então a fazer uma reunião fora do trabalho, onde se comemorava, aniversários, férias, e o que mais desse no pensamento, jogávamos futebol, foi bom esta fase de interação.
                          
Passados uns 15 dias, meu chefe deu ordens para assumir a chefia da área, então diariamente ficou sob minha responsabilidade na segurança cerca de 300 homens diariamente, divididos em segurança patrimonial, orgânica, alem do suporte em 18 unidades contendo cerca de 100 adolescentes cada uma.
                            
Todo dia eu iniciava minha ronda e cumprimentava cada um de meus comandados, dando-lhes apoio moral e ciência  de que eles não estavam sozinhos em decisões criticas. Todo santo dia havia em alguma unidade refém, qualquer reinvidicação era motivo, la ia eu negociar, algumas eram fáceis outras eu tratava com elementos de auto grau de conhecimentos, mas seguia em minha luta. Eu andava sozinho pelo complexo pois havia muitos grupos espalhados,devido a contratação.
                            
Certo dia eu caminhava ate a enfermaria onde os adolescentes eram levados, os adolescentes começaram a marcar encontros la, e de la saiam as ordens para rebeliões, reféns, etc, resolvi então passar algumas horas do dia la,para me interar dessa movimentação, no primeiro dia houve encontro de 5 adolescentes, e quando perceberam minha presença partiram em confronto comigo, eu estava sozinho, saquei minha tonfa, e coloquei em pratica o que aprendera, desferi alguns golpes, mas procurei levar o confronto para fora, onde pudessem me ver, e aconteceu uma equipe próxima correu em meu apoio dominamos os adolescentes.
                           
A partir desse dia resolvi que não mais iria andar sozinho, precisava de um escudeiro, então me veio a mente, aquele contratado que prestava muita atenção nas aulas (Guará) e fui em busca dele.
                            
Achei-o na UI-12, em meio a uma pequena discussão entre seus companheiros de grupo, onde ao me aproximar deveria me dirigir ao líder do grupo, o qual me relatou que não queria mais aquele componente, pois ele dava palpite demais, e estava atravancando o grupo, aquilo caiu como uma luva, então disse a ele, que aqui vou chamá-lo de irmão. Guara me acompanhe vamos dar um rumo a sua vida, ele o fez de cabeça baixa, sem retrucar, levei-o ate minha sala, resolvi algumas questões e lhe disse:   - a partir de agora você me acompanhara pelo complexo, será meu escudeiro e nada mais, você será observador a minha volta enquanto resolvo questões nas unidades, minha vida esta em suas mãos.
                            
Percebi a satisfação da missão que acabara de dar aquele homem, então assim foi, saiamos equipados com coletes, tonfas, capacetes, e assim decidi dias após dar inicio a um treinamento para que ele estivesse preparado para tudo, inclusive negociar vidas.
                            
Incrivelmente Guara, se empenhou e foi adquirindo conhecimento, o problema era quando caminhávamos, os olhares de reprovação dados a ele, então eu dizia muitos queriam estar no seu lugar, para só um pouco ganhar alguns conhecimentos, não ligue você terá um grande futuro como ser humano, peça a Deus sabedoria. Assim foi os dias, e nossa amizade crescendo, percebi que aquele soldado, entraria no fogo, sem exitar, poucos homens hoje em dia dão sua vida pelos companheiros.
                            
Guara a cada dia aprendia as técnicas de negociação, tom de voz, expressão corporal, desenvolvimento da síndrome de estocolmo, etc, chegamos a um dia em que ele resolveu uma situação, com equilíbrio e sensatez, percebi que ele era um grande homem para a instituição.
                            
Um dia Guara faltou ao trabalho, tive que escalar outro escudeiro, mas ele não se comparava a Guara. Aqui vou chama-lo de Frank, estávamos a caminhar pelo complexo, eu dava orientações de como seria nosso dia, como deveríamos agir diante de uma situação e como ele deveria proceder, era como um plano de contingência.
                            
Disse a Frank, que quase todo dia, havia Unidades que fazíamos funcionários reféns, quando se ocorre tal situação, era para ele só observar e aprender, pois negociação com adolescentes e diferente de criminosos adultos, o adolescente pode ate matar o refém, mas ele não passa de 21 aqui.
                            
Ensinei também que, diante de um inicio de negociação, ele deveria ficar em silencio e deixar quem estivesse no comando das negociações, dirigir o evento, porque quando chamamos a atenção do adolescente, ele desvia a atenção a nos, colocando por água abaixo, o trabalho do colega anterior.
                             
Não demorou muito, anunciaram via radio um acontecimento na UI-05, onde um adolescente estava numa certa altura, ameaçando pular e acabar com sua vida. Rapidamente nos dirigimos ao local, e na chegada,lembrei Frank, não esqueça do que lhe disse sobre negociação, fique ao meu lado e só aprenda, não fala com o adolescente. Eu disse para ele não falar, para que não haja responsabilidade á ele.
                            
Quando chegamos, a Diretora da UI-05, estava negociando para que o adolescente descesse daquela altura, o que era negado veementemente por ele. Eu disse a Frank, primeira lição, quando se chega na casa dos outros e eles estão negociando, esperamos, pois na Unidade há, Psicólogas, Assistente Sociais, etc, e todos estão preparados para tais eventos, mesmo porque conhecem os adolescentes, aguardaremos que nos solicitem ok.
                             
Quando se esgotaram as possibilidades da Diretora, ele solicitou-me e disse, não conseguimos mais prosseguir, você pode nos ajudar, no que ela foi atendida de imediato. Ai pedi para que todos, se retirassem, pois quanto mais pessoas ali, os adolescentes adoram estender os fatos, e como se quisessem chamar atenção.   Me preparei e disse, Frank entre comigo, para qualquer eventualidade, mas lembre-se, deixe que eu conduzo a negociação, tenho mais experiência.
                            
Quando entrei na Unidade, avistei o adolescente numa altura de aproximadamente seis metros, me posicionei com meu semblante calmo, e quando iria chamar a atenção do adolescente, Frank chamou-a primeiro.
                           
-Esta fazendo o que ai moleque; neste instante eu gelei, pois agora estava tudo nas mãos de Frank, pois aprendi que não há possibilidade de dois negociadores falando ao mesmo tempo, então como ele chamou a atenção, deixei-o prosseguir. – Desça daí moleque.  –Não vou descer, vou pular, não quero saber de nada, to de saco cheio da minha vida, me tiraram da minha antiga Unidade, agora não posso falar mais com minha Psicóloga.
                            
-Hora moleque, é só isso, veja bem, se eu buscar sua psicóloga você desce daí; -Desço sim senhor, mas se ela vier ate aqui, se não eu pulo.
                            
-Aguarde ai que vou buscá-la e já volto beleza. Viramos as costas e nos retiramos, eu estava bravo com meu novo escudeiro, mas me contive. Numa negociação nunca se deve dizer, o que não ira fazer ou não poder fazer, quem gerencia, não negocia, quem negocia, não gerencia.
                            
Quando nos afastamos um pouco, Frank me olhava como se quizesse dizer, veja resolvi rápido  o episodio, é só buscar a mulher e pronto. Neste momento dei-lhe outra lição de gerenciamento de crise e disse. Frank, nunca prometa nada, você vai buscar a psicóloga; -sim, respondeu ele.  – Frank, e se ela estiver de folga, e se ela estiver de férias, e se ela foi demitida, e se ela morreu ontem, não se promete nada Frank, disse eu em voz meio firme.
                           
O que acontecera agora é o seguinte, você assumiu sem autorização uma negociação, todos esperam agora por você. Se o adolescente resolver pular, você será arrolado no inquérito policial, dirão que o garoto se matou por sua culpa, pense bem, agora você vai mesmo buscar aquela mulher;  Ele abaixou a cabeça e disse, - desculpe não entendia que negociação era tão complexo assim, me ajude agora por favor.
                             
Retornei a Unidade, desta vez sozinho, conversei com a Diretora e retomei a negociação.
                            
- Onde esta aquele senhor que me prometeu trazer a psicóloga;
            -Esta em prantos e não consegue para de chorar, esta soluçando tanto, que não da nem para falar com ele.
                             - E como fica o que ele  prometeu, senhor.
                             - Ficara assim, você descera daí, e ira comprimentar-me aqui em baixo.
                             - Eu vou pular senhor, vou sim, você duvida.
                             - Escute-me,venho passando a vários dias, próximo de sua unidade, e por alguns dias venho te observando.
                             - E, daí, senhor.
                             - Daí, que, percebi em seus olhos que você tem potencial, amadureceu rápido demais, e age como homens adultos. – Homens adultos comprimentan-se como cavalheiros, pessoas de respeito. – Sei que não vou me enganar em minhas conclusões, então agora estou estendendo minha mão aqui em baixo, e sei que você não a deixará estendida em vão.
                            
O garoto observou-me por alguns segundos, em seguida desceu sem retrucar mais nada. Chagando ao solo cumprimentou-me e ali permaneceu.
                             
Em meus cursos, nos quais eu era o instrutor, todos achavam que aprenderiam somente técnicas para confronto,enganaram-se. Eu não entendo exatamente os trabalhos das técnicas a fundo, mas sei que tem missão e visão, voltados aos adolescentes, sei também que é gratificante a recuperação total de um adolescente em conflito com a lei, então num de meus ensinamentos, expliquei o seguinte:
                           
Aplicava aos meus alunos colaboradores, técnicas para abordagem e revista, no interior dos quartos. Muitos agiam com desprezo, quebrando tudo que havia pela frente, outros não, mas também não sabiam o significado de sua ação. Passei a conversar com algumas técnicas, porem elas eram odiadas por uma parcela de funcionários, que diziam ser elas, paga pau de ladrão, comidinha de ladrão, e outros absurdos. Cheguei as minhas conclusões pessoais, e as apliquei na aula, assim:
                           
Senhores alunos, acredito que o ser humano pode recuperar-se, mas depende de cada um de nos. Quando uma Assistente tem a missão de acompanhar o desenvolvimento de certos adolescentes, existem alguns métodos, utilizados por estes profissionais, como todos sabem, desenho de arvore, uma casa, etc.
                            
Um dos métodos utilizados na fundação, é a aplicação e desenvolvimento através de artesanato. Quando desenvolve-se um grau de confiabilidade a Técnica, solicita que o adolescente,  que faça algum tipo de artesanato, para ele é a descoberta de valoração, e para ela é o desenvolvimento através de sinais desenvolvidos naquele trabalho.  
                            
O artesanato passa a ser um elo, entre esses seres, e o adolescente cria um vinculo grande com aquilo, dorme olhando o que fez e acorda olhando o que fez, a Técnica acompanha os resultados através do comportamento dele.
                            
Então imaginem que ao entrar numa cela,para revista-la, você pega o trabalho daquele adolescente, o revista, mas respeita-o, tratando aquele trabalho de forma a não estraga-lo, nem joga-lo ao solo,etc. Muitas vezes através disto, ganhasse respeito, alem de que, o trabalho da Técnica matem a continuidade, todos ganham, o adolescente, a Técnica, a família do adolescente, a fundação, o Governo, o Brasil, o mundo, se tiver mais adiante, também ganhará.
                           
Agora, como já vi em algumas oportunidades, e a partir de agora, tentarei mudar este quadro, imaginem que, ao entrar numa cela, para revista-la, você pega o trabalho daquele adolescente, o revista, quebra o mesmo, laço-o ao solo, pisoteia durante a revista. O adolescente observa isto, e ali foi-se um longo trabalho, parece incrível para os leigos, mas é isso que acontece, ai todos perdem, o adolescente perde, a técnica, a família do adolescente, a fundação, o Governo, o Brasil, o mundo, se tiver mais alguém adiante também perderá.
                            
Então alunos, não sejam vingativos em suas revistas, mesmo porque ninguém esta livre de ter algum ente querido entre eles.  
                             
Nestes dias, as novas equipes tiveram pouco treinamento ou quase nenhum, e quando acontecia alguns confrontos via-se escudos, caneleiras, coletes, jogados ao solo, pois diante de uma crise os componentes jogavam e corriam, outros já eram valentes e destemidos, se pudesse selecionar daria muito certo, mas eu não podia fazer um grupo super forte e deixar outro frágil e sozinho, iriam morrer certamente.
                            
As unidades do Tatuapé estavam vulneráveis, em relação a segurança interna, pois havia o inicio de uso de celulares irregulares, por parte dos adolescentes.
                     
            Nesta época, no complexo Tatuapé, havia o apoio da ROTA, todos os dias eles ficavam seus plantões neste complexo, todos os funcionários ficavam mais aliviados, menos os policiais, imaginem uma policia de elite usada ali que desperdício, mas aconteceu um fato, no qual dei graças a DEUS, por eles estarem ali.

            No comando das viaturas de Rota, estava o Capitão Costeves, policial dinâmico e amigo, tive vários contatos com ele, para passar e receber informações voltadas ao serviço diário.

            As viaturas de ROTA, só podiam transitar na perimetral, não tinham autorização para adentrar no interior do complexo, diante de uma tentativa de fuga, os adolescentes davam de cara com a ROTA, e claro recuavam.

            Certo dia em ronda com meu escudeiro Guará, houve um pedido de apoio na UI-04, onde os adolescentes estavam quebrando tudo, no interior daquela unidade. Quando chegamos na porta, deparamos com alguns adolescentes tentando sair em disparada, eu e Guará nos confrontamos com 5 adolescentes, que recuaram.

            Percebemos então que eles, foram reunir um numero maior de adolescentes, e também avistamos que eles se preparavam para esfaquear alguns reféns.  Porem só eu e Guará, não conseguiríamos intervir, então ordenei a Guará para que solicitasse apoio ao  Capitão Costeves da ROTA COMANDO.

            Sabíamos que eles não poderiam adentrar ate o local onde estávamos, mas diante do risco de morte daqueles funcionários Capitão Costeves atendeu nosso pedido e quebrou esta regra. Munidos de calibre 12 com munição não letal, eles adentraram na unidade, dispararam alguns tiros no interior desta e conseguiram libertam aqueles reféns. Se não fosse esta intervenção, com certeza teríamos alguma morte naquele dia.

            Então fica aqui também meus agradecimentos à ROTA, a qual nos apoiou por vários dias, dentro e fora do complexo e ate hoje nos apóia.  

Num dia ensolarado, muito silencio, e olhares investigativos aconteceu um fato inesperado e que poucos conseguiriam solucionar.
                            
Devido o uso de celular, os adolescentes se encontravam na enfermaria, no fórum, nas atividades escolares, esportivas, e trocavam números para se comunicarem. Então naquele dia decidiram pelo telefone, transformar todas as unidades em cárceres privados, fazendo todos os funcionários do complexo reféns, e nesse dia eu estava de coordenador de área, era um domingo.
                                      
Em minha ronda pelo complexo, passei pela UI-12, onde avistei alguns adolescentes pela grade e chamei-os, e fiz a pergunta de sempre, - esta tudo bem rapazes, eles me olharam começaram a rir e disseram, - bem se vê que o senhor esta desinformado, o complexo inteiro virou uma fortaleza com reféns, então é o seguinte, se o batalhão de choque invadir qualquer unidade, colocara em jogo a vida dos funcionários reféns. Olhei nos olhos dos companheiros dentro do pátio e vi que os adolescentes falavam a verdade.
                            
Resolvi, investigar para saber se o fato relatado procedia, pois bem, em cada unidade que entrava os adolescentes me diziam a mesma coisa, mas resolvi saber quais eram as reinvidicações, e em cada uma delas a reinvidicação era diferente. Comecei a fazer as comunicações de praxe, para a sala de inteligência da febem e também resolvi começar a negociar por algum lugar.
                            
Eu sabia que para abrandar a situação, teria que ter a compreensão de pelo menos uma unidade, pois haveria contato telefônico para saber das medidas e se eu mentisse , poderia acarretar distúrbios e falta de confiança. Então me dirigi á UI-01, onde negociei com os adolescentes por cerca de 40minutos, onde no final, os adolescentes disseram que não iriam ceder, pois necessitavam de permissão de outras unidades, então eu disse, positivo, irei negociar em outras unidades, mas se algumas entrar em contato você dirão que aceitam a liberação dos reféns, - sim responderam eles.
                            
Iniciei minha peregrinação em quase todas as unidades, porem achava estranho, pois faltava informação precisa por parte dos adolescentes, mas não podia parar e deixar a bola de neve crescer, pois sabia que se inicia-se a tortura por parte dos adolescentes, os funcionários de refém iriam sofrer demais.
                             Depois de horas, de unidade em unidade, chegamos ao final onde foram liberados os reféns e a volta ao cotidiano, a noite recolhi-me em minha sala, para elaboração do relatório, quando em meus pensamentos, voltando sobre todos os adolescentes que conversei, cheguei a conclusão de que este fato, não fora serio, foi somente um teste para verificar a sintonia em que se encontra todas as unidades, alem da obediência. Então meu relatório foi no sentido da prevenção, pois eles estavam arquitetando algo grande e deveríamos mitigar este risco. Alguns dias depois, aconteceram varias rebeliões com reféns, alem de que a arquitetura da unidades favoreciam os  adolescentes á subirem no telhado, e havia a UI-39, onde os adolescentes daquela unidade subiam no prédio e avistavam todo o complexo, era um tipo de posto de comando, para avistar a movimentação no complexo, inclusive a chegada do choque, a qual quando ocorria, iniciava-se os cárceres privados com reféns por parte dos adolescentes.                             Só quem trabalha ou trabalhou, sabe o que estou relatando.

                             Em 2005,prestes a sair da fundação, entrei na internet para verificar alguns email, quando entrei no site do TJ, e verifiquei que meu amigo Sr.Dr.Paulo havia ganhado a reintegração ao cargo na policia civil. Imediatamente contatei minha advogada e entramos com a ação, cujo teor da sentença esta a seguir:

Sentença Proferida:

DECIMA TERCEIRA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA CAPITAL .
 Processo 1518/583.53.2006.132966-2
Vistos. Trata-se de ação, proposta por MAURICI ISAIAS CAETANO, contra FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, objetivando declaração de nulidade do ato que determinou a sua demissão do cargo de carcereiro policial, datado de 14 de novembro de 2001 e publicado no DOE de 15 de novembro de 2001, em razão da nulidade das provas representadas por fitas magnéticas gravadas com afronta às normas constitucionais e legais e dos depoimentos das testemunhas Emerenciano Dini e Antonio do Carmo Freire de Souza, que foram os autores dessas gravações. Postula a reintegração no cargo e o restabelecimento de todas as vantagens desde a data da demissão. Citada, a parte requerida contestou, cujas razões a parte autora cuidou de refutar. Relatados, PASSO A DECIDIR. Procedo ao julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 330 do CPC. As apontadas vítimas de concussão se retrataram, dizendo que os policiais não fizeram exigência alguma de vantagem indevida. Há referência de que assim agiram somente por medo de represálias desses mesmos policiais (fls. 106, § 33). Restou, então, a gravação contida em fitas magnéticas, feita sem conhecimento do interlocutor, contendo confissão informal de um dos acusados. Como ninguém é obrigado a auto-acusar-se e quando interrogado deve ser advertido quanto ao direito de permanecer calado, a gravação de conversa informal entre colegas de corporação em que um admite conduta irregular apenas por não saber que está sendo gravado, constitui prova ilícita que não pode ser considerada. Assim, não há prova válida para sustentar a pena de demissão, que por isso foi aplicada de forma ilegal. Os documentos apresentados não corroboram a alegação de que no período de julho de 1998 a outubro de 2001 o autor percebeu somente um terço dos vencimentos a que fazia jus, nem o motivo disso, razão pela qual importa desacolher o correspondente pedido de recomposição. Ante o exposto, julgo em parte PROCEDENTE a demanda para anular a pena de demissão que foi aplicada ao autor e reintegrá-lo ao cargo, com todas as vantagens restabelecidas desde o seu desligamento do serviço público, pagando-se as vantagens pecuniárias com correção monetária e juros de mora, estes de 6% ao ano, em consonância com a MP-2180-35, de 24 de agosto de 2001, a contar da citação. Em razão da sucumbência mínima do autor, todas as despesas são por conta do Estado, fixados os honorários advocatícios, por eqüidade, em dois mil reais, estes com correção monetária a partir desta data e aquelas do efetivo desembolso, segundo a tabela de atualização editada pelo Tribunal de Justiça do Estado. Ao reexame necessário, depois de processados eventuais recursos. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. São Paulo (SP), em 26 de fevereiro de 2007 eventuais recursos. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. São Paulo (SP), em 26 de fevereiro de 2007.

                           
Nesta época eu estava estudando, fazendo superior em Gestão de Segurança Empresarial, fiquei sabendo que teria aulas de gerenciamento de crises neste curso.
                            
Nesse mesmo período o promotor apelou da sentença supracitada.  fiquei perdido neste fogo cruzado, sem saber o que fazer, achava que com esta sentença favorável, eu retomaria meu cargo imediatamente, mas não aconteceu.
                             
Dava seqüência em meus estudos, a fim de tonar-me um administrador de segurança empresarial, com foco em gerenciamento de crises pessoais e empresariais. Aprendi muita coisa neste curso, inclusive que, quando se é policial acha-se que sabe de tudo e não é por ai. Ao final do meu curso, fui convidado a trabalhar numa empresa de um amigo, prestando meus serviços junto a empresa GELITA DO BRASIL. Nove meses depois pedi demissão e continuei minha vida.

            Obrigado a todos que acompanharam ate aqui minha vida, aguardem que logo escreverei a segunda fase, principalmente meu retorno a Policia Civil.



MAURICI


Fotos






VALEU.